terça-feira, 2 de agosto de 2011

LANÇAMENTO DE CD DA SERESTA JOÃO CHAVES

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Montes Claros tem tradição de seresta hoje, não há dúvida, graças ao grande historiador e folclorista Hermes de Paula e, na noite do último dia 21, na área aberta do Automóvel Clube de Montes Claros, cuidadosamente decorada, o Grupo de Seresta João Chaves, por ele criado, lançou o CD “Vozes em Serenata”, patrocinado pela FIEMG Regional Norte e o empresário e Patrono do Grupo, Jamil Curi (PAVISAN).

O Grupo a gravar o CD estava assim formado: Adélcio Saraiva, Ademar Toledo, Alice Navarro, Hélio Saraiva, Josefina (Fina) de Paula, Luiz Porfírio, Marlene Oliveira, Marlene Cunha, Mafalda Mafra, Marta Marcondes, Ney Barbosa, Terezinha Fróes, Terezinha Jardim e Valderez Costa e Paula. Do repertório musical, “O Trovador”, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim; “Uma grande dor não se esquece”, de Antenógenes Silva e Ernani Campos; “Sertaneja”, de Renné Bittencout; “Realejo”, de Sadi Cabral; “Chuá... Chuá...”, de Pedro de Sá Pereira; “Malandrinha”, de Freire Júnior; “Sinfonia da Mata”, de Adelino Moreira; “Amo-te Muito”, de João Chaves; “Noite cheia de Estrelas”, de Cândido das Neves; “Guitarra de Prata” (Domínio público); “Quem fez a Lua”, do Cônego Severiano Rezende; “Saudade da Bahia”, de Godofredo Guedes; “É a ti, Flor do Céu”, de Teodomiro Pereira e Ferreira Júnior; “Saudade”, de Jaime Redondo; “A Você”, de Carlos Galhardo; “Só tu não pensas em mim” (Domínio Público) e o Pout Pourri do Sesquicentenário de Montes Claros (Grupo de Seresta João Chaves).

Na abertura da noite, falaram os nomes de Adélcio Saraiva, da Seresta; Yvonne de Oliveira Silveira, presidente da Academia Montesclarense de Letras que, como sempre, deu um verdadeiro show de oratória e poesia, contando a história e a importância da seresta em Montes Claros e outras regiões. Falou ainda, com brilho, narrando a história de criação, reconhecimento e conquistas do Grupo, o empresário Jamil Habib Curi, seu grande Patrono, e que viabilizou financeiramente a gravação do CD. Em seguida, o escritor Wanderlino Arruda saudou o Grupo, em rápidas (o que não lhe é comum!) palavras. Isso porque, na verdade, todos queriam mesmo era ouvir a Seresta... cantar! E como cantou bonito! E, uma única exceção a parte, apenas “as mais belas modinhas”, ou músicas autênticas de seresta. Parecia que o “espírito” de Hermes de Paula estava ali, naquele momento, soprando no ouvido de seus seresteiros o que deviam cantar, ou seja, modinhas de verdade, como sempre defendera!


*Fotos Márcia Vieira - Clique na Imagem para Ampliar

O Grupo de Seresta João Chaves estava quase completo, na noite de lançamento do seu CD, pelos nomes de Josephina (Fina) Abreu de Paula, viúva de seu criador, Hermes de Paula (ambos primos em primeiro grau de meu querido e saudoso pai, Cassimiro Xavier de Mendonça, as mães irmãs de meu avô e padrinho de Batismo, uma das melhores pessoas que o mundo e Montes Claros já tiveram, João Xavier de Mendonça!). A querida Fina, infelizmente, por não poder subir ao palco ali montado, não pôde fazer parte do coro, mas cantou, encantou e emocionou, sozinha, em cadeira carinhosamente posta na ponta direita do palco; dos “filhos queridos de Fina (que a ela não digam sequer que são feios...)”, os solistas Adélcio Saraiva, Marta Marcondes, Terezinha Jardim, Hélio Saraiva (irmão de Adélcio) e Alice Navarro, além de Rogério Botelho , convidado especial, cantando, como só ele sabe fazer, “Lua Branca”. Não puderam estar presentes os nomes de Ney Barbosa e Valderez Costa e Paula. Os demais lá estavam, com suas belas e sonoras vozes.

*Fotos Márcia Vieira - Clique na Imagem para Ampliar

Como pude participar de inúmeros ensaios - cada ensaio era uma festa de muita felicidade - ou apresentações do Grupo João Chaves na casa de Fina e Hermes de Paula (ele ainda vivo) – e até soltava a voz n`algumas modinhas, mesmo que de longe, sei que Hermes considerava importante manter a tradição da seresta, não deixá-la se descaracterizar, o que a tornaria menor no estilo. Cantar modinhas nascidas nos famosos Saraus (ou Serões Montes-clarenses – Nelson Vianna), no estilo de Montes Claros, para Hermes de Paula, era ter e manter um solista e o coro. A “voz de peito” ficava para os seresteiros masculinos e as mulheres participantes já mostravam clara tendência ao estilo lírico, como a nossa queridíssima Maristela Cardoso, que abrilhantava a Seresta até outro dia e, não sei a razão, dela se desligou. Ela e Simone Santana são apenas “as maiores e melhores vozes do canto lírico na cidade, estado e país”, junto a Roberto Mon`Sá, que, como o próprio nome artístico indica, de Montes Claros, mas nascido em Francisco (Chico) Sá. Virgílio de Paula, também historiador, como o pai, lutou bravamente pela preservação da seresta tal qual é. Virgínia (Vi), de profundo conhecimento e reconhecida sensibilidade ambiental, cultural e, de modo muito especial, musical, poderia, se o quisesse, assumir o lugar e o papel deixados pelo pai e irmão. Por que não?!

SAUDADES


Deixaram espaço vazio e muitas saudades na Seresta João Chaves, entre outros, os grandes nomes de Sebastião Mendes (Ducho do Bandolim); Raimundo Chaves, o violonista Sinval Fróes, Virgílio de Paula, Denise, Adélia Miranda, Viriato (Beto) Oliveira; entre os nomes novos, Wilson (o “Dinoite”) e Antônio Carlos Parrela (Toninho) e, por último, o grande seresteiro de longa data e estrada, Nivaldo Maciel, “a Voz da Seresta” montes-clarense.

“ELEPÊS”


O primeiro Lp da Seresta João Chaves foi gravado na Rádio Guarani, “Uma Conversa e Cinco Modinhas”. Depois virem mais três Lps, formando um álbum, entre eles o belo “Eterna Lembrança”, nome de música assinada pelo genial compositor João Chaves, a nossa preferida, junto, claro, a “Amo-te Muito”, que é, afinal, uma unanimidade nacional, cuja paternidade já foi reivindicada, injustamente (e pudemos, com muito empenho e clareza, como sempre, combater tal e falsa paternidade “in loco”, ainda que não tenha havido má fé dos que sonharam em ter entre os seus filhos seresteiros o autor da maior, mais bela e mais famosa modinha do país) por outra cidade “Berço de Serestas”, como Montes Claros.

Hermes de Paula, para promover Montes Claros, como era de seu feitio e sempre estava a fazer, em todos os setores e lugares, gravou um LP com músicas de Dulce Sarmento. Abria exceção também, no repertório da Seresta, para o nome de Godofredo Guedes e músicas folclóricas regionais. As demais composições por ele selecionadas eram só modinhas da melhor qualidade, as mais belas e puras, legítimas modinhas!...

HISTÓRIA DO GRUPO JOÃO CHAVES:

LEVANDO E ELEVANDO O NOME DE MONTES CLAROS LÁ FORA E, ATÉ, TRAZENDO ASFALTO...

(Do livro “Montes Claros, sua história, sua gente, seus costumes”, de Hermes de Paula)

Depois do advento da luz elétrica, as serenatas foram rareando... Em dias de lua grande ou de visitantes nostálgicos, a gente se reunia e cantava o que se lembrava...

Em abril de 1967, recebemos um telefonema do Dr. Clementino Dotti, convidando-nos para um concurso de serestas em Ouro Preto, a se realizar na noite de 20 de abril, sob os auspícios da Hidrominas. Avisou, no entanto, que não fôssemos muito confiados, pois o número de concorrentes era grande e de alto gabarito. Aceitamos o convite, formamos um grupo e tiramos o primeiro lugar entre os 14 grupos presentes. Nosso grupo foi composto dos seguintes seresteiros: Cantores – Nivaldo Maciel, João Leopoldo França (o grande João Leopoldo), Celestino Soares da Cruz, Clarice Maciel, Lola Chaves, Selma Ruas de Abreu, Tereza Maia Cunha e Josefina de Abreu Paula. Instrumentos: Sinval Fróes (violão) e Sebastião Mendes (Bandolim). Direção – Hermes de Paula.

Às 3 horas da madrugada de 21  de abril o resultado foi anunciado. E os trinta quilos de carne de sol, transformados em churrasco, foram consumidos pelos presentes, nesses incluída a direção da Hidrominas, o Governador Israel Pinheiro e o Senador Daniel Krieger. A carne deu fartura, mas as 30 garrafas de cachaça acabaram ligeiro.

Nesse mesmo dia, ainda de manhã, gravamos, na Rádio Guarani, nosso primeiro LP – Uma Conversa e Cinco Modinhas.

Gravamos mais 3 elepês, formando um álbum – Eterna Lembrança.

Mais tarde, gravamos um elepê com música de Dulce Sarmento.

Ainda em 67, fomos representar Minas em uma festa no Clube Solar dos Estados, em Brasília, quando fizemos uma apresentação para a família do Presidente Costa e Silva, no Palácio da Alvorada. Incluímos no repertório um pout-pourri de músicas mineiras e outro de músicas gaúchas. Quando terminamos “Prenda Minha”, com o Presidente e familiares cantando conosco, improvisamos a seguinte quadrinha, cantada na mesma música de “Prenda Minha”.

        Ao Senhor Presidente Costa e Silva

        Ao cantarmos no Alvorada

        De Curvelo a Montes Claros, nós pedimos

        Toda a estrada asfaltada.


Foi uma surpresa para o auditório e para nós. Pois o Presidente gostou e acudiu nosso pedido, dando segunda prioridade a esse trecho do asfalto, pois a primeira tinha sido prometida a Uberaba.

Bem, a promessa foi cumprida – aí está o asfalto beneficiando a todos.

Duas vezes fomos representar Minas no Rio de Janeiro – a primeira foi na Feira de Providência e a segunda no congresso da ASTA.

Cantamos na Bahia (Itapetinga); em Caldas, na Festa da Uva, Poços de Caldas, Caxambu, Lavras, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Governador Valadares, Viçosa, Januária, Coração de Jesus, Brasília de Minas, Francisco Sá, Jaíba, Engenheiro Navarro, Patos de Minas, Rio Casca, Bocaiúva, São Francisco, Curvelo, Sete Lagoas, Lagoa Santa. Em algumas dessas cidades mais de uma vez. A Belo Horizonte fomos mais de vinte vezes – TV Itacolomi, Rádio Guarani, cinquentenário do Estado de Minas, Palácio das Artes com Isaac Karabitchevsky, Teatro Francisco Nunes etc. Uma serenata feita no cemitério, em homenagem ao nosso patrono, no sétimo dia do seu falecimento, chamou a atenção da Rede Globo, que gravou um tape, apresentado depois no programa “Fantástico”.

A 12 de setembro de 1977, a convite da Companhia Internacional de Seguros, apresentamo-nos no teatro do Copacabana Palace, no lançamento do álbum Modinhas.

Posteriormente, alguns elementos saíram; outros entraram – Raimundo Chaves, Luiz Procópio Andrade, Adélia Miranda, Rita Maciel, Maria do Carmo Maciel, Terezinha Maciel Jardim, Miriam Fróis, Gilberto Câmara, Virgílio de Paula e Félix Richard.

O “Grupo de Serestas João Chaves” fez renascer o gosto pelas modinhas e pelo folclore regional. Assim é que “arranjou” 3 “pout-pourris” de folclore: “Pout-Pourri Minas Gerais”, “Aquarela Sertaneja” e “Cadê papai”. Isso para dar mais alegria e movimentação às apresentações.

Depois de nós, o SESC, a nosso conselho, fundou um grupo de serestas, que foi vencedor em Ouro Preto no concurso de 1969; chamou, inicialmente, Grupo de Serestas “Dulce Sarmento”, depois “João Valle Maurício” e, finalmente, “Lágrimas ao Luar”. Já gravou 2 LPs.

Há também o Grupo de Serestas “Luiz de Paula” e outro no Conservatório Lorenzo Fernândez.

Além disto toda a população ficou impregnada com nossas velhas canções românticas; até os jovens sabem as modinhas e as cantam nas festas.

O Grupo de Serestas “João Chaves” sente-se feliz por ter despertado Montes Claros para as modinhas e outros tipos de folclore, além de ter projetado o nome de nossa cidade como cultivadora de canções românticas, dentro e fora do Estado de Minas. (Hermes de Paula)

JOÃO CHAVES


Nascido a 22 de maio de 1887. Foram seus pais João Antônio Gonçalves Chaves e D. Julia Prates Chaves. Fez seu curso primário em uma das escolas isoladas aqui existentes e cursou um ano a antiga Escola Normal. Desde cedo se salientou pela sua inteligência lúcida e pelos seus dotes artísticos. João Chaves foi o homem dos sete instrumentos. Excelente executor, sobressaindo-se na flauta, piston e violão; estudou música com o Professor Ezequias Serafim Teixeira Guimarães. Como poeta tem uma obra vastíssima e valorosa. Não menor é sua carga musical. Compôs modinhas, músicas sacras, etc. Como jornalista fundou aqui os jornais “A Palavra”, “O Sol” e colaborou em “O Boêmio” e “Veneta”. Atualmente colabora na “Gazeta do Norte”. Em breve publicará seu livro já pronto – “Risos e Lágrimas” – Poesias - 1950. (Hermes de Paula)
                               
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Em nome de Montes Claros, “CIDADE DA ARTE E DA CULTURA”, com que contribuiu, efetivamente em todos os setores do desenvolvimento, obrigada, Hermes de Paula e obrigada Jamil Curi, outro grande nome do desenvolvimento cultural de Montes Claros. 

E nosso especial carinho e agradecimento à finíssima flor de pessoa, Fina de Paula, alma da poesia eterna e fraterna do grande Grupo de Seresta João Chaves! 

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