quinta-feira, 25 de julho de 2019

FESTA DO SENHOR DO BONFIM


A Capela de Nosso Senhor do Bonfim, a popular Igrejinha dos Morrinhos, situada na Praça Manoel Quatrocentos, s/nº, Bairro Morrinhos, com quase 133 anos de história, tem extraordinária importância no conjunto cultural-religioso da cidade, tombada pelo município, através do Decreto-Lei nº 1761, de 28 de setembro de 1999, tendo sido eleita pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Montes Claros - COMPAC, o "símbolo do patrimônio histórico da cidade". Simboliza a simplicidade e, ao mesmo tempo, a infinita riqueza de vida e de fé do povo montes-clarense, sendo uma das mais antigas construções religiosas da cidade, que ainda conserva grande parte de suas características originais, necessitando, novamente, de obras de recuperação e/ou restauração emergenciais. As últimas ali realizadas tiveram o apoio de Raquel Mendonça, Gerente de Preservação e Promoção do Patrimônio Cultural de Montes Claros, que conseguiu, junto ao IEPHA/MG - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, a participação do excepcional arquiteto, especialista em edificações coloniais, então membro da equipe de técnicos do órgão estadual de proteção, Wellington de Carvalho, que elaborou o projeto de restauro e realizou prospeções detalhadas na igreja, cujos recursos para a realização da maior parte das obras tendo sido doados pelo grande e saudoso empresário, Sebastião Landes Tolentino - nome que não consta, lamentavelmente, da placa de reinauguração da Capela -, com a COPASA arcando com os custos das obras finais de restauro, quando se comprometeu a ser a "Madrinha da Igrejinha" a partir de então e para todas as necessidades, o que pode ser ainda confirmado, visto que a Igrejinha dos Morrinhos necessita de novas obras de intervenção emergenciais, que já tem projeto de restauração assinado pelo arquiteto urbanista Daniel Ortiga, havendo dúvidas quanto a parte estrutural e telhado da Capela, questões estas que deverão ser dirimidas ou definidas por Gilner Rocha, com extraordinária experiência nessa área.

A primeira notícia que se tem da capela foi veiculada no antigo jornal "Correio do Norte", informando que a Sra. Germana Maria de Olinda abrira subscrição para angariar esmolas para a construção de uma capela, em pagamento de promessa feita a Nosso Senhor do Bonfim. A campanha foi bem aceita pela população, com muitas contribuições reunidas nesse sentido. Apesar do fato de que as quantias eram, em sua maioria, pequenas, o fato de serem numerosas fez com que Dona Germana arrecadasse valor significativo. E a 14 de setembro de 1886, a Capela foi solenemente inaugurada pelo Padre Manoel Ribeiro Assunção. Embora tivesse como padroeiro Nosso Senhor do Bonfim, imagem doada pelo desembargador Antônio Augusto Veloso, a igreja chamou-se inicialmente Capela de Santa Cruz e, durante certo tempo, teve o seu nome associado não apenas ao Senhor do Bonfim, mas também a São Geraldo. O histórico templo passou por diversas reformas, mas mantém ainda a sua arquitetura original. Dona Germana Maria de Olinda faleceu aos 86 anos de idade, no dia 15 de novembro de 1902, sendo o seu corpo merecidamente sepultado no interior da Capela do Senhor do Bonfim, pois ela colaborou, efetivamente, para a sua construção, num ato de fé e devoção a Cristo!...

A Capela de Nosso Senhor do Bonfim é uma edificação de linhas simples, porém, de formas graciosas, que desfruta de situação privilegiada, localizando-se em outeiro destacável na paisagem da cidade. Implanta-se em adro ajardinado e cercado, onde se destaca um cruzeiro de madeira. Desenvolve-se em corpo central, que acompanha o chanfro da fachada. A torre apresenta cobertura em quatro águas de telhas de zinco, sendo estruturada e vedada em madeira. A fachada, chanfrada, recebe vãos emoldurados e vedados em madeira, correspondendo em alinhamento às três portas e três janelas, à altura do coro, no corpo central e duas portas nos corpos laterais. Internamente, a decoração é bastante singela, mas ao mesmo tempo bela, dispondo de um retábulo de feição popular, que necessita ser recuperado.

A Festa do Senhor do Bonfim realizar-se-á no período de 28 de julho a 06 de agosto, cujo tema central será "Jovem, não tenham medo de testemunhar o Senhor que morreu, ressuscitou e que agora vive no meio de nós", tendo à frente a Comunidade Senhor do Bonfim e a Paróquia Santa Rita de Cássia/Arquidiocese de Montes Claros, cujo Pároco é o muito querido Padre Pedro Henrique da Cruz, que tem feito campanha em busca de recursos para a necessária restauração, bem como de doações a leilão com esse fim.

Da programação, constará o seguinte: além de barraquinhas, no dia 28/07 (domingo), haverá Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h30, sob a responsabilidade da Comunidade Senhor do Bonfim. No dia 29/07 (segunda-feira), haverá Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h30, sob a responsabilidade da Legião de Maria. No dia 30/07 (terça-feira), haverá Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h00, sob a responsabilidade da Comunidade Santa Rita. No dia 31/07 (quarta-feira) haverá Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h00, sob a responsabilidade da Comunidade São Paulo e São Pedro. No dia 01/08 (quinta-feira), haverá Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h00, sob a responsabilidade da Comunidade do Divino Espírito Santo. No dia 02/08 (sexta-feira), além das barraquinhas, haverá o Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h00, sob a responsabilidade da Comunidade de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. No dia 03/08 (sábado), além das barraquinhas, haverá o Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h00, No dia 04/08 (domingo), além das barraquinhas, haverá o Terço às 18h30 e a Santa Missa às 19h30, sob a responsabilidade do Grupo do Terço da Misericórdia. No dia 05/08 (segunda-feira), além das barraquinhas, haverá o Hasteamento do Mastro, com concentração às 17h00 na Igreja de Santa Rita; às 18h00, sairá a procissão com a bandeira do Senhor do Bonfim até a Capela de Nosso Senhor do Bonfim (Igrejinha dos Morrinhos), com a celebração da Santa Missa às 19h00. No dia 06/08 (terça-feira), além das barraquinhas, haverá a Santa Missa, às 19h00 e, às 20h00, Cantata nas janelas da Igrejinha dos Morrinhos.

Participe!!!

19 MOSTRA MONTES CLAROS DE TEATRO

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segunda-feira, 22 de julho de 2019

"Deleita-te no SENHOR, e Ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia Nele, e o mais Ele fará." Salmos 37, 4-5.

domingo, 21 de julho de 2019

- Artigo -

Cem Anos do Santuário do Bom Jesus -
por Raquel Mendonça*


O belo e centenário Santuário do Bom Jesus, localizado na Praça do Bom Jesus, nº 116, ligado à Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida de Montes Claros, tombado pelo município através do Decreto nº 1.761 de 28 de setembro de 1999, vem recebendo obras de intervenção emergencial ou de recuperação, com correção de alvenaria e pintura das fachadas frontal, laterais e de fundo, após minucioso estudo, análise e definição do grande e extraordinariamente competente Arquiteto Urbanista Gilner Rocha, referência maior na área em Montes Claros, orientando tecnicamente obras de restauração ou restauro de prédios históricos, entre eles igrejas, na cidade!...

A festa em comemoração aos 100 anos do Santuário do Bom Jesus tornou urgentes todas as definições havidas, buscando de modo especial a nova e precisa pintura externa, solicitadas pelo muito querido Frei Valdo (Valdomiro Soares Machado), Pároco da Catedral, que tem como Vigário o Padre Wagner Eduardo, com irrestrito apoio do nosso grande Arcebispo Dom João Justino de Medeiros Silva, que recebeu o Pálio do Papa Francisco, no último dia 29 de junho, durante a solene celebração Eucarística de São Pedro e Paulo!...

Depois de todas as avaliações necessárias, com a realização de prospecção detalhada, foi fielmente escolhida por Gilner Rocha a cor Amarelo Canário (cor original), para a pintura externa do Santuário do Bom Jesus (conforme Paleta de cores da Suvinil), com detalhes na cor Branco Gelo; esquadrias em Esmalte Branco Fosco; referência Suvinil Clássica e gradil externo em Esmalte Grafite Escuro Fosco, com resultado no mínimo divino, lindamente iluminado, por todos elogiado, de modo especial pela atuante comunidade religiosa do Santuário do Bom Jesus e arredores, sempre atenta e envolvida com questões de interesse da igreja, cartão postal hoje dos mais belos da cidade!

Além da participação fundamental e decisiva de Gilner Rocha, contaram de forma significativa as decisões coletivas da Coordenação, depois de ouvido Frei Valdo, em reuniões na Paróquia da Catedral de Nossa Senhora Aparecida. Destacamos a participação dos responsáveis - além da equipe da Paróquia da Catedral no Centro Paroquial João Paulo II, onde atuam Erick Gonçalves Ferreira, Mary Corrêa, Renann Oliveira e Josiane Amaral - ou seja, os nomes de Fátima Pereira e Flaucy Macêdo, Coordenadores de MSEC - Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística e a equipe voluntária, formada por Etelvino Cangussu Neto (engenheiro civil), Jerônymo Rocha Athayde, Hermeçindo Rodrigues Malveira (Taquim), Conselheiro do Santuário, e a competente equipe de obras, formada pelo experiente Chefe de Obras, Wilson Ned Silva Figueiredo (encarregado) e demais integrantes: Júnior César Silva Figueiredo, Edmar Rodrigues Lima, Juneo César Rocha Fraga, Edson Gonçalves Pereira, Enock Froes Júnior, Yago Aquino e Silva, Edons Gonçalves Pereira, Cosme e Damião e outros colaboradores mais.

A Catedral de Nossa Senhora Aparecida, na Praça Pio XII, e o Santuário do Bom Jesus, na praça de mesmo nome, já se encontram em clima de festa, após a mais uma vez bem sucedida Romaria a Nossa Senhora Aparecida! Palmas, muitas palmas para todos os responsáveis e envolvidos na obra! E viva o Arcebispo Dom João Justino de Medeiros e Silva, o Arcebispo Emérito de Montes Claros - para sempre inesquecível - Dom José Alberto Moura, assim como o abençoado e dinâmico Frei Valdo e todas as suas gigantescas e solidárias obras sociais! Viva Nossa Senhora Aparecida e Bom Jesus!...

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A rica programação da Festa do Centenário do Santuário do Bom Jesus terá celebrações diárias, sempre as 19h00, com início no sábado, dia 27/07/2019, até o dia 06/08/2019, terça feira. Neste dia, com programação diferenciada, por ser 06/08 o "Dia do Bom Jesus", com missas às 7h00 e às 20h00, além de procissão às 19h30, saindo da Catedral de Nossa Senhora Aparecida, com destino ao Santuário do Bom Jesus. Haverá Barraquinhas nos dias 27, 28 e 31/07; 01, 02, 03, 04 e 06/08. 

Toda a população está convidada a participar e a comemorar os 100 anos de uma capela tão bela e histórica para a cidade!...



A Cruz Sagrada seja a nossa luz, 
não seja o dragão o nosso guia. 
Retira-te, satanás! 
Nunca nos aconselhes coisas vãs. 
É mau o que tu nos ofereces, 
bebe tu mesmo os teus venenos!

São Bento nos cuide.
Deus nos proteja de todos os maus e males.
O Sagrado Coração de Maria nos abençoe.
São Miguel Arcanjo nos guarde e nos olhe.
AMÉM.

DEUS É MAIS E MAIOR!

sexta-feira, 12 de julho de 2019

- Reflexão -

"As maldades, as inverdades, as calúnias que são propagadas por aí, nada mais são do que o reflexo de almas doentes e apodrecidas, que ali residem. Não sinta raiva, apenas reze por essas pessoas, elas precisam da nossa oração."

- Concurso -

Inscrições Abertas para o FETO 2019

A 19ª edição do FETO – Festival Estudantil de Teatro está com inscrições abertas para grupos estudantis de todo Brasil.

Até o dia 8 de agosto, grupos estudantis de todo país podem se inscrever na 19ª edição do FETO – Festival Estudantil de Teatro para apresentarem seus espetáculos em Belo Horizonte. Realizado desde 1999 pela Associação No Ato, o Festival recebe anualmente centenas de participantes, configurando-se como uma das mais importantes atividades nacionais para estudantes de Artes Cênicas, grupos de teatro estudantil e interessados em formação teatral.

O edital e o formulário de inscrições estão disponíveis no site http://www.fetobh.art.br/ e os inscritos devem ficar atentos aos materiais solicitados, como vídeo do espetáculo, texto, proposta de montagem, entre outros. O formato único do FETO permite a participação de estudantes de todos os níveis de ensino, de fundamental à pós-graduação, divididos em categorias específicas de acordo com o conhecimento acadêmico em artes cênicas.

Além de estudantes, o Festival é também ponto de encontro de profissionais do teatro, docentes e pesquisadores de diferentes partes do país, que consideram o FETO uma janela para antever os caminhos do teatro.

O material enviado pelos grupos será analisado por uma curadoria convidada, formada por profissionais do teatro e da educação, que avalia aspectos cênicos, pedagógicos, criativos, representatividade, aspectos regionais, entre diversos outros elementos que vão além de habilidades técnicas formais. O FETO 2019 acontecerá em outubro, em Belo Horizonte, e terá em sua programação a apresentação dos grupos selecionados e de grupo profissional convidado, oficinas e ações formativas diversas.

A 19ª edição do FETO – Festival Estudantil de Teatro é um projeto realizado pela Associação No Ato. Conta com o patrocínio do Instituto Unimed-BH, via incentivo fiscal de mais de 5 mil médicos cooperados e colaboradores ao Programa Sociocultural Unimed-BH e da MGS  – Minas Gerais Administração e Serviços S.A. Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. O FETO 2019 é realizado também pela Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria Especial De Cultura, Ministério Da Cidadania e Governo Federal.



- Crônica -


OLÍVIO
por Aristônio Canela*

O Columba Lívia, também chamado de “pombo doméstico”, é uma ave da ordem Columbiforme, da família Columbidae, originária da Eurásia e África, obtém, em nossos tempos, uma alta taxa de distribuição pelo mundo, por sua capacidade adaptativa e reprodutiva, além da facilidade na alimentação.

Muito comum no Brasil, trazido pelos colonizadores portugueses, assumiu um aspecto urbano, vivendo em praças públicas, comendo restos de comida humana e fazendo de três a seis posturas, quase sempre em dois ovos, tendo suas crias normalmente vingadas, podendo chegar a doze filhotes anuais. Essa explosiva reprodução faz crescer assustadoramente a população, tornando-os verdadeiras pragas, causando diversos problemas, nidificando em telhados, podendo transmitir doenças por fungos patogênicos, ectoparasitas, os chamados piolhos, com pruridos na pele e, ainda, patologias graves como a febre tifo.

Mede aproximadamente entre 28 e 38 centímetros e pesa de 238 e 330 gramas, podendo viver até dezesseis anos.

Nada disso, porém, interfere na beleza de suas revoadas e no carinho dos homens.

Os noticiários de rádio, jornais e televisão alertam todos os dias para o perigo do tempo seco e da baixa umidade relativa do ar, chegando a níveis críticos, com todo seu séquito, agredindo o sistema respiratório, principalmente de velhos e crianças, distribuindo o vírus da gripe e suas consequências.

Os agasalhos são tirados dos baús e o cheiro da naftalina impregna o ar, num aviso de inverno e os músculos norte-mineiros põem-se em indolências, esquecendo os exercícios e os adipócitos que inundam as barrigas vorazmente, aumentando furos do cinto.

Amoquecados, ficamos todos em casa de pantufas, ouvindo o ventinho frio soprar na companhia de um capuchino. Foi exatamente esse o quadro vivido por mim, bem depois da meia noite daquela sexta, quando, pela enésima vez assistia à Casa Blanca com a mesma emoção da primeira, admirando Humphey Bogart e Ingrid Bergnan ao som de “As Time Goes By”.

De repente, pelo janelão entreaberto, meus assuntamentos desviaram-se da tela para um barulho claro de ruflar de asas, vindos do pé de Canela, todo empetecado de sementes no meu jardim. Pus reparo e não tive dúvidas.

Curioso, resolvi verificar; acendi a luz e descobri a causa. Tratava-se de um pombo de cor cinza claro, mancha púrpura e outra esverdeada na lateral do pescoço, bico cinzento, pés avermelhados, olhar espantado de olhos alaranjados, com pupilas negras, movimentando a cabeça para frente e para trás e, numa demonstração de nervosismo, andava em círculos, sem perder a solenidade e elegância.

Abordei-o educadamente e ele me respondeu com segurança e sobriedade.

Nossa conversa foi marcada por uma grande empatia e, logo após apresentar-se como Olívio, soube do seu comprometimento de saúde, causa daquele transtorno, devidamente compreendido na solicitação e aceitação de asilo provisório.

Ofereci o interior da casa, recusado por ele, mesmo sendo alertado para a presença notívaga de “Carniceiro”, um gato branco, predador incansável.

Nos agradecimentos, se mostrou conhecedor de defesas perfeitas contra tais ataques e, me pedindo licença, acomodou-se confortavelmente, empoleirando-se numa pequena escada de madeira por debaixo da janela.

Pela manhã, encontrei-o na garagem com olheiras marcantes, sinal de uma noite mal dormida, queixando-se de dores abdominais e rastros claros de uma diarreia marcada por sangue vivo.

Quis saber mais sobre o caso, mas foi econômico nas respostas e, quando tentei um exame físico apurado, sentiu-se extremamente constrangido e me impediu com veemência.

Meus argumentos foram miúdos diante de sua decisão firme, mas aceitou um tratamento clínico. Iniciei com água fresca filtrada, arroz cozido sem sal ou gordura, chá de casca de Pau-Terra, potente anti-diarreico muito usado em mim, por mamãe; dose adequada de Fitalomicina, dez gotas de Trometamol Cetorolaco, analgésico e antiinflamatório, além de Sulfadiazina com Trimetropina.

O tratamento, ao completar setenta e duas horas, mostrou efeito generosamente positivo e surpreendente, a ponto do paciente iniciar exercícios fisioterápicos no bater de asas, saltitando e recuperando o bom humor, permanecendo irredutível, entretanto, quanto ao exame clínico detalhado com ausculta e palpações proposto.

Confesso minha imensa estranheza nessa atitude, mas, lembrando meu mestre Luigi Bogliolo...: “PRIMO NON NOCERE”, primeiro não incomode, relevei.

Os dias foram passando e nossas conversas tornaram-se cada vez mais frequentes, propondo a nós descobertas valiosíssimas em inúmeros pontos de convergências filosóficas e, quando me atinei, de alma nua, num solilóquio mais íntimo possível, tive certeza de um sentimento profundo e dependente, deixando-me apavorado perante minha macheza.

O que diria papai sobre esse amor incontrolável?...

Sentindo-me envergonhado, tentei esquecer as dores do meu coração naquela angústia solitária, evitando novos encontros. Essas forças, porém, são absurdamente poderosas e acabávamos juntos nos finais de tarde, com ele demonstrando segurança perfeita nos argumentos sólidos, conhecimento de vida e compreensão completa da universalidade do amor, independentemente de sermos homem e pombo.

O impacto disso tudo promovia em mim uma luta surda e inglória, num viés de absoluto e completo desentendimento do que se passava comigo, vendo-me cada vez mais instável pelas noites insones, completamente perdido no furacão daquele sentimento desvairado, sem conseguir aceitá-lo, mas dominado por sua força estranha.

Minha alma viril, forjada no sol do sertão, acostumada às tradições de macho alfa, garanhão por assim tão natural, não podia jamais aceitar esse travo amargoso arroxeando meus sentidos, mas o racional picava-me dolorosamente a me mostrar o tamanho do meu envolvimento e, certa tarde, revelei-lhe minha dor.

Não se fez surpreso e, em poucas palavras, bem medidas, deixou-me claro o tamanho incompreendido das energias cósmicas.

Dois dias depois, não sei se por via direta da minha confissão, seus sinais e sintomas voltaram, fazendo-me numa péssima expectativa.

Daí para frente foi definhando, sem responder a qualquer tratamento e, nessa manhã, ao procurá-lo para nosso desjejum, encontrei-o estendido na soleira da porta da cozinha. Meu coração disparado encontrou a solidez do médico e constatei o óbito.

Os mistérios, às vezes, são resolvidos pelas vontades, sem avexamentos, da mãe natureza!

Na junção da sua asa esquerda com o tórax, vi pender uma modelada bolsa de coro que abri com cuidado. Dentro, muito bem acomodados, rímel, batom, rouge, perfume e, confirmando o universo feminino, um minúsculo fardo de absorventes. 

A eternidade de João Guimarães Rosa me envolveu no seu manto cosido pelas agulhas e linhas de um extraordinário mundo de fascínios, provavelmente imponderáveis e um Riobaldo de olhos marejados e entardecidos, explodiu-se em mim, naquele encontro libertador com o seu Diadorim.

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