terça-feira, 31 de janeiro de 2017

|Se a palavra tem poder,imagina a oração...|

domingo, 22 de janeiro de 2017

Precisão
Clarice Lispector*

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

- Crônica -

Magnus Medeiros: O homem humano.
*Ivana Rebello.

“Há coisas que fazem o homem; outras que fazem o humano”. Mia Couto, escritor moçambicano, dá-nos a justa medida entre o animal biológico e aquele que desenvolve em si características que diríamos eminentemente humanas, puramente humanas, tais como a capacidade de rir ou de chorar, o privilégio de pensar, fazer escolhas, refletir sobre nossas ações, depurar sentimentos, criar laços, mudar os rumos de nossa história e amar. Um ser humano é um agente transformador de uma trajetória: ele põe vida onde havia simplesmente existência; ele constrói criativamente seu espaço no mundo; ele impõe a sua assinatura em sua conduta e seu ofício.

O breve preâmbulo serve-me de epígrafe para falar de Magnus Medeiros, a quem conheço para além das páginas dos jornais. Amigo de minha família desde longes datas, sempre o encontrei na casa da irmã, Glícia Medeiros Chamone, de quem minha tia Mary era íntima. Educado, ético, comedido em atos e palavras, Magnus Medeiros, que, certa feita, também foi meu professor, em anos que não convém mencionar, destaca-se por sua inteligência refinada e rara. E como sou alguém que vive das palavras e pelas palavras não posso deixar de sublinhar que as colunas diárias de Magnus levam adiante tais qualidades: elas refletem o grande ser humano que ele é.

Mais do que o elogio raso, ele prima por dar destaque às pessoas. Culto, escreve bem e sucintamente, compondo diariamente a história social de Montes Claros. Quem lê sua coluna, lê acontecimentos, reflexões sobre a vida e o comportamento e ainda pequenas lições de palavras, confirmando o que sabemos sobre a escrita jornalística, seja ela de feição política, policial ou social.

Há algo que verdadeiramente me encanta na escrita de Magnus: o seu amor pela coisa bem-feita, que se ressalta desde a forma como as notícias são dadas, como pelo fato de que, ao opinar, criticar e exercitar essa necessária filosofia da vida, ele não se afasta, nem por uma vírgula, de sua elegância rara.

Observador atento de nosso tempo e nossas circunstâncias, Magnus Medeiros ajuda a escrever essa história da vida privada e ou social, evidenciando que o jornalismo social é também um importante referente dos comportamentos, valores e modos de uma dada região, como nos comprovam as deliciosas crônicas machadianas. Ele próprio, o nosso Machado de Assis, responsável por difundir o gênero crônica no país, e dono de uma pena crítica e bem-humorada, definiu, certa feita, a crônica como “a cereja do bolo”. Ela pode não ser a parte substancial da notícia jornalística, tampouco trazer as fundamentações ideológicas de um editorial, mas é ela, sem dúvida, que dá substância e acabamento ao todo. Acessível, por ser curta e se pautar nas matérias do cotidiano, ela evidencia uma parte fundamental da nossa vida. Parte mais íntima, às vezes mais afetada, posto que se mostre vestida de festas ou acontecimentos, mas, por isso mesmo, essencial para que saibamos entender o nosso tempo e possamos nos postar criticamente diante dele.

Quando leio as crônicas de Magnus, antevejo o homem, cidadão de Montes Claros, amigo dos amigos, filho e irmão devotado, tio admirado. Nunca vi quem fizesse uma nota de desagravo a ele, embora ele se exponha todos os dias nos jornais. Também é notório que ele goza do respeito e admiração por parte de seus colegas de imprensa. Grande, mesmo em gestos pequenos, sempre dá destaque aos eventos de outros jornalistas, exercitando a boa e difícil política da convivência.

Até onde sei, ainda reside numa casa de tendências artdéco, como muitas de Montes Claros, que se foram, abatidas pela sanha do progresso. Ainda é o homem que honra a palavra e os compromissos. Ainda é o amigo a quem encontramos aqui e alhures, firme em seus conceitos, ético em suas atitudes.

Uma das coisas que aprendo no meu ofício é que não se pode mentir cotidianamente. As palavras, as ditas e, principalmente as não ditas, estão pesadas de intenções e tensões. Elas assombram nossa existência e nos resgatam, diariamente, de nossa vã prepotência. As palavras escritas de Magnus sublinham o homem que ele é. O mais, sabemos de sua história, sua verve poética, sua voz belíssima, seu sorriso cortês.

Há muito anos, quando, ainda menino, chegou a Montes Claros, fez desta a sua terra e aqui construiu uma vida edificante e admirável. Parabéns, amigo Magnus Medeiros, pelo grande ser humano que é!

- Crônica -

Apelo ao montes-clarense
* Ruth Tupinambá Graça


Montes Claros, Montes Claros,
Terra de grande beleza
Começou no Arraial de formigas
Transformou-se numa linda princesa.

Oh! Minha querida Montes Claros! Estão querendo sacrificá-la, tirando sua maior beleza, suas serras, seus montes, enfeando-a e descaracterizando sua origem.
Acordem montes-clarenses, já dormiram bastante. Alertem os companheiros, os vereadores, os deputados da nossa região, a Administração Pública e órgãos responsáveis pela ordem e proteção da nossa cidade.
Ainda não sentiram o que estão tramando contra um patrimônio que precisa e deve ser preservado?!
Não deixem que estraguem os nossos montes, principalmente a Serra do Mel.
Não deixem que casas e prédios subam morro acima, como verdadeiras feridas, prejudicando a área de preservação e destruindo o verde do cartão postal da nossa cidade.
Já pensaram no que poderá acontecer futuramente?
Devemos nos preocupar, não só pelos loteamentos em questão, mas com a proteção da parte hidrográfica e com os efeitos negativos que virão pela ocupação aleatória das terras na parte alta das serras.
A natureza é sábia, se vinga e com as enchentes tudo poderá acontecer. Uma inundação pode se tornar uma catástrofe: a cidade não terá estrutura suficiente para controlar tamanho desastre.
Não sou contra o desenvolvimento da nossa “Princesa” , pelo contrario, fico muito feliz vendo-a crescer, dia a dia. O que não me conformo é com a omissão dos Administradores, por não resolverem os problemas políticos e sociais, bem assim a falta de sensibilidade e amor de certas Empresas Construtoras que, em exagerada ganância, extrapolam as áreas normais e seguras para construções. Agora apelam pelos loteamentos em nossos claros montes que numa linha sinuosa tão perfeita e bonita contornam toda a cidade, fazendo milenar contraste com o céu de um azul tão lindo que só Montes Claros possui.
E, sob esta má influência, a cidade está se descaracterizando. Está crescendo, é um fato, embora desordenadamente, pois não há um projeto geral de edificação. Edifícios subindo por todos os lados, condomínios luxuosos com magníficas mansões surgem - como num passe de magica - em vários bairros, mas, infelizmente, a querida urbe esta em crise, principalmente na saúde e na educação.
É triste chegar a esta conclusão: hospitais fechando, sem verbas, falta de leitos e médicos, macas ao chão com doentes morrendo nos corredores.
Na educação, ensino insuficiente. Faltam escolas e professores e o analfabetismo continua crescendo.
Alunos rebeldes e até drogados não respeitam os professores, ameaçando-os. Com armas, inclusive.
A violência aumenta dia a dia.
Ladrões e assassinos dominam. Às vezes, até a própria polícia. A população, insegura e apavorada, se isola por trás dos altos muros e cercas elétricas.
Enquanto o cidadão sofre, os bandidos andam soltos, sentindo-se donos do “pedaço”, esnobando, pois sabem que nunca ficarão presos.
A limpeza pública deixa muito a desejar: ruas sujas e esburacadas. O lixo se acumula nos passeios em péssimas condições, dificultando a passagem dos pedestres.
Mas não devemos culpar só a Administração Pública e outros órgãos responsáveis.
A comunidade também é culpada e tem obrigação de cooperar e ajudar. Existe muita falta de educação. Pelas ruas, amontoados de garrafas vazias, copos, papéis de balas e biscoitos jogados pelo chão. Por que não os depositam nos engradados próprios?
Deixam displicentemente para a limpeza pública.
Vamos todos cooperar e ajudar, montes-clarenses!
Uma andorinha só não faz verão. Tomem conhecimento da realidade e não deixem que a Rainha do Norte se transforme em Rainha do lixo.
De que vale tanto luxo e tanto empreendimento se é outra a realidade da nossa cidade?
Se não agirem com presteza, vencerá o velho ditado:
Por cima filó, filó.
Por baixo, molambo só.

* Escritora, Historiadora (querida e saudosa), autora de “Montes Claros era assim” e “Montes Claros - Eterna Lembrança”, membro da Academia Montes-clarense de Letras.

* Crônica publicada na página 02 - Opinião - do Jornal de Notícias, na edição de 20/21 de novembro de 2011.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

- REFLEXÃO -

"Viver de indiretas em redes sociais, nada mais é do que uma declaração pública de fragilidade e pequenez."

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