sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

- Crônica -

Apelo ao montes-clarense
* Ruth Tupinambá Graça


Montes Claros, Montes Claros,
Terra de grande beleza
Começou no Arraial de formigas
Transformou-se numa linda princesa.

Oh! Minha querida Montes Claros! Estão querendo sacrificá-la, tirando sua maior beleza, suas serras, seus montes, enfeando-a e descaracterizando sua origem.
Acordem montes-clarenses, já dormiram bastante. Alertem os companheiros, os vereadores, os deputados da nossa região, a Administração Pública e órgãos responsáveis pela ordem e proteção da nossa cidade.
Ainda não sentiram o que estão tramando contra um patrimônio que precisa e deve ser preservado?!
Não deixem que estraguem os nossos montes, principalmente a Serra do Mel.
Não deixem que casas e prédios subam morro acima, como verdadeiras feridas, prejudicando a área de preservação e destruindo o verde do cartão postal da nossa cidade.
Já pensaram no que poderá acontecer futuramente?
Devemos nos preocupar, não só pelos loteamentos em questão, mas com a proteção da parte hidrográfica e com os efeitos negativos que virão pela ocupação aleatória das terras na parte alta das serras.
A natureza é sábia, se vinga e com as enchentes tudo poderá acontecer. Uma inundação pode se tornar uma catástrofe: a cidade não terá estrutura suficiente para controlar tamanho desastre.
Não sou contra o desenvolvimento da nossa “Princesa” , pelo contrario, fico muito feliz vendo-a crescer, dia a dia. O que não me conformo é com a omissão dos Administradores, por não resolverem os problemas políticos e sociais, bem assim a falta de sensibilidade e amor de certas Empresas Construtoras que, em exagerada ganância, extrapolam as áreas normais e seguras para construções. Agora apelam pelos loteamentos em nossos claros montes que numa linha sinuosa tão perfeita e bonita contornam toda a cidade, fazendo milenar contraste com o céu de um azul tão lindo que só Montes Claros possui.
E, sob esta má influência, a cidade está se descaracterizando. Está crescendo, é um fato, embora desordenadamente, pois não há um projeto geral de edificação. Edifícios subindo por todos os lados, condomínios luxuosos com magníficas mansões surgem - como num passe de magica - em vários bairros, mas, infelizmente, a querida urbe esta em crise, principalmente na saúde e na educação.
É triste chegar a esta conclusão: hospitais fechando, sem verbas, falta de leitos e médicos, macas ao chão com doentes morrendo nos corredores.
Na educação, ensino insuficiente. Faltam escolas e professores e o analfabetismo continua crescendo.
Alunos rebeldes e até drogados não respeitam os professores, ameaçando-os. Com armas, inclusive.
A violência aumenta dia a dia.
Ladrões e assassinos dominam. Às vezes, até a própria polícia. A população, insegura e apavorada, se isola por trás dos altos muros e cercas elétricas.
Enquanto o cidadão sofre, os bandidos andam soltos, sentindo-se donos do “pedaço”, esnobando, pois sabem que nunca ficarão presos.
A limpeza pública deixa muito a desejar: ruas sujas e esburacadas. O lixo se acumula nos passeios em péssimas condições, dificultando a passagem dos pedestres.
Mas não devemos culpar só a Administração Pública e outros órgãos responsáveis.
A comunidade também é culpada e tem obrigação de cooperar e ajudar. Existe muita falta de educação. Pelas ruas, amontoados de garrafas vazias, copos, papéis de balas e biscoitos jogados pelo chão. Por que não os depositam nos engradados próprios?
Deixam displicentemente para a limpeza pública.
Vamos todos cooperar e ajudar, montes-clarenses!
Uma andorinha só não faz verão. Tomem conhecimento da realidade e não deixem que a Rainha do Norte se transforme em Rainha do lixo.
De que vale tanto luxo e tanto empreendimento se é outra a realidade da nossa cidade?
Se não agirem com presteza, vencerá o velho ditado:
Por cima filó, filó.
Por baixo, molambo só.

* Escritora, Historiadora (querida e saudosa), autora de “Montes Claros era assim” e “Montes Claros - Eterna Lembrança”, membro da Academia Montes-clarense de Letras.

* Crônica publicada na página 02 - Opinião - do Jornal de Notícias, na edição de 20/21 de novembro de 2011.

| TRANSLATE THIS PAGE |