segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

QUE A MISERICÓRDIA DE DEUS AMPARE OS CORAÇÕES EM BRUMADINHO.

sábado, 26 de janeiro de 2019



Tem misericórdia Senhor!

"PARA QUE O MAL TRIUNFE, BASTA QUE OS BONS NADA FAÇAM."
- Martin Luther King -

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

- Crônica -

DE ORELHA EM PÉ
por Aristônio Canela*

O Guzerá é um animal vistoso, de grande porte e suas origens confundem-se com um passado remoto de imagens em cerâmicas, achados arqueológicos em Mohenjo-Bapo e Harappa, na Índia e Paquistão.

No Brasil a raça foi introduzida em 1870, advinda do Oriente, trazida pelo Barão de Duas Barras e por ser muito forte foi utilizado não só para carne e leite, mas também para tração puxando carroções e até mesmo vagões no transporte do café.

Com o passar do tempo e concorrência de outras raças, entrou em decadência voltando a ter novo impulso na década de sessenta, nos vários cruzamentos, inclusive com o Nelore, originando o Guzonél.

No Norte de Minas, onde a seca não sabe o que é compaixão, a raça por sua rusticidade, mostrou-se valente na adaptação do solo e clima criando esperança nos criadores, entusiasmados nas exposições agropecuárias promovendo valores principalmente de carne e leite.

No Vale do São Lamberto não foi diferente e o Tenente reformado da Polícia Militar, Afrânio Bertioga de Oliveira, ao se casar com Gerarcina Gusmão de Carvalho, filha única do velho Faustino Otoni de Carvalho, dono da fazenda “Lírio Branco”, com cem alqueires bem cuidados, pastagem amplas, nas terras mais altas prevalecendo o Brachiária, nas baixas Colonião e Bengo, tinha ainda cinco hectares de cana, sorgo e milho para o silo de várias toneladas e acabou herdando tudo quando do passamento do sogro já enviuvado.

A perda foi um trauma grande para a região e ninguém apostava na manutenção da exuberância de “Lírio Branco” na ausência de seu benfeitor.

A realidade mostrou o quanto estávamos enganados! A fazenda multiplicou seus investimentos nas mãos do Tenente, trazendo modernidades nas máquinas agrícolas assim como na criação do Guzerá, até então desconhecida para os ribeirinhos, firmando-se como atividade principal e crescendo o entusiasmo ano a ano pela qualidade das matrizes gerando lucro acima do esperado.

Nesse aspecto, Afrânio Bertioga vivia um sorriso só, navegando em águas calmas de felicidade, mostrando ao mundo segurança da mais pura.

O contraste evidenciava-se nas mesas preferidas dos botecos de Zezim de Dona Fia e Belarmino Bico Doce quando, invariavelmente as terças e quintas eram por ele ocupadas, respectivamente, destilando seu imenso desconforto na vida conjugal.

Numa semana atípica, não compareceu “nem num nem noutro” boteco e convidou-me, à língua minúscula, para um passeio na Dona Xandoca, aonde a dançarina Gabriela Furtado, vinha em “turnê” de Porto Seguro na Bahia, a “Biezinha”, para fazer sua primeira apresentação em terras Mineiras, prometendo deixar os marmanjos de água na boca, em cíclicas contorções já cogitadas, segundo seu empresário, pelo Circo de Soleil, tamanha originalidade e sensualidade. Aceitei o convite e de pronto pus-me todo “Pimpão” e quando cheguei, Marcão Guarda Roupa, o segurança, levou-me à mesa com a casa completamente lotada.

O salão veio abaixo na apresentação de “Biezinha” exuberando sua “moreniçe” Cabo-Verde, num corpo escultural fazendo inveja a qualquer cobra em areia quente, abrindo-se toda em corolas, deixando olhares atônitos freqüentarem intimidades, alvoroçando desejos incontroláveis.

Foi muito difícil para equipe de segurança manter as regras da casa e alguns mais afoitos açulados pelos eflúvios etílicos foram obrigados a deixarem o recinto, principalmente quando a dançarina fez de seu camarote uma espécie de sala de visitas somente para afortunados de gordos bolsos.

Serenados os ânimos, a música, sob o comando de Newton Borborema e a voz adocicada de Edson Luiz foi nos invadindo e na mesma proporção dos pares rodopiando, nossas cabeças entregavam-se ao velho líquido, um emérito  destravador de línguas e o meu companheiro, abriu seu coração num desabafo de abalar montanhas, falando-me de sua desdita.

Viver com Dona Gerarcina não lhe pareceu, a princípio, um obstáculo intransponível, mesmo considerando a absoluta falta de atributos físicos, com seus cabelos ralos, estrabismo do olho direito, queixo pontudo, boca pequena de lábios finos e buço enegrecido, pescoço longo, tórax estreito de seios em dois pequenos botões, braços arqueados, mãos de dedos curtos, cintura quadrada de glúteos em tábua, coxas e pernas de taliscas além de voz esganiçada perfuradora de ouvidos.

Em verdade, nada disso foi páreo para seu “OLHO GRANDE” nas terras de “Lírio Branco” e assumiu todos os riscos no altar, ao dizer sim.

O tempo, entretanto, agora lhe mostrava quão alto foi o preço pago. A mulher de gênio de cão, de ciúme doentio, de cio eterno, não lhe dava sossego quanto às obrigações matrimoniais e nem mesmo os medicamentos mais modernos lhe faziam cumpri-las.

As lamúrias vazaram a madrugada e o assunto só foi quebrado por uma vez, quando demonstrei interesse em criar Guzerá, recomendado enfaticamente por ele.

Sete meses depois daquela farra, fomos todos surpreendidos com a morte súbita do Tenente Afrânio Bertioga de Oliveira, ainda sem chegar aos cinqüenta, cuja causa para as falas freqüentadoras das vielas lambertenses foi claramente falência do coração pelo intenso e cotidiano esforço físico exigido pela alcova de Dona Gerarcina.

Enlutados ficamos por muito tempo lamentando a viagem sem volta do amigo, companheiro leal e agregador partido assim tão cheio de arrependimentos, deixando “Lirio Branco” e suas riquezas aos comandos agora, da viúva.

Domingo passado, no encerramento da missa, Padre Mariano fez questão de lembrar a trajetória do Tenente Afrânio, derramando-se em elogios recebidos com alegria por nós.

Na saída da Igreja tive oportunidade de cumprimentar Dona Gerarcina e dizer-lhe do meu apreço pelo falecido, assim como de minha admiração pelo Guzerá e vontade de iniciar a raça, na “Fazenda LANA”, sentindo minhas terras preparadas para esse empreite.

Notei um exagero de caras e bocas da viúva e no seu convite “gentilérrimo” para um passeio em sua casa, quando conheceria “Leonidas do Lírio Branco”, seu touro premiadíssimo, doador de sêmen valioso.

No dia marcado, Wagner e eu lá estávamos e fomos recebidos com alvíssaras portentosas, um café da manhã magnífico e todo tipo de mimo a minha pessoa, a ponto de despertar o comentário de meu acompanhante:

“É... É... É doutor! Essa muié tá arrastano a asa pru sinhô.”

Fato percebido, procurei ser o mais natural possível ao relevar seus elogios com suas mãos apertando meus ombros, seus olhares dengosos, seus suspiros prolongados e quando senti um toque acintoso de seus pés nas minhas pernas por debaixo da mesa, achei ser chegada a hora de bater-me em retirada estratégica, para sua tristeza, sem antes ter sido obrigado a marcar novo encontro para um jantar, dessa feita, a dois.

Com os ouvidos ainda cheios das histórias do Tenente Afrânio, depois de duas tulipas de chopp, de colarinhos brancos e encorpados, servidas pelo meu amigo Jonas no seu bar em Montes Claros, naquela quarta-feira calorenta; desisti de criar Guzerá, lembrando-me do latinês caipira do filósofo Tiófo Quiroga:

“NANUM SEMPRARI, PER SANCTUS, BEIJINARIS PETRAS.”

O que traduzido seria:

“NEM SEMPRE PELOS SANTOS, BEIJAM-SE AS PEDRAS.”

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- POEMA -  

LAMPEJO
por Aristônio Canela*

Estávamos, a natureza e eu, assuntando a vida por debaixo da soberania do grande arco-íris, novinho novinho, ainda cheirando à terra molhada, festeiro do sertão, na varanda lá de casa, quando em notas musicais e vôo acrobático, acomodou-se o canarinho elegantemente no galho do jasmineiro coposo, todo enfeitado de “petalinhas” brancas e cheiro embriagador, numa cena de Felini, deixando-nos absolutamente felizes.

Depois, num piscar de olhos humanos; nove meses foram passados!

O jasmineiro bateu asas e...

 O passarinho criou raízes!

Membro da Academia Montes-Clarense de Letras.*




Vó Eutália, doce e amorosa vó Eutália.

Saudades!!!

sábado, 12 de janeiro de 2019

- Reflexão -

"Hoje, neste tempo que é seu, o futuro está sendo plantado. As escolhas que você procura, os amigos que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você abraça, os amores que você ama. Tudo será determinante para a colheita futura."                                                                                                                    - Padre Fábio de Melo - 

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