Magnus Medeiros: O homem humano.
“Há coisas que fazem o homem; outras que fazem o humano”.
Mia Couto, escritor moçambicano, dá-nos a justa medida entre o animal biológico
e aquele que desenvolve em si características que diríamos eminentemente
humanas, puramente humanas, tais como a capacidade de rir ou de chorar, o
privilégio de pensar, fazer escolhas, refletir sobre nossas ações, depurar
sentimentos, criar laços, mudar os rumos de nossa história e amar. Um ser
humano é um agente transformador de uma trajetória: ele põe vida onde havia
simplesmente existência; ele constrói criativamente seu espaço no mundo; ele
impõe a sua assinatura em sua conduta e seu ofício.
O breve
preâmbulo serve-me de epígrafe para falar de Magnus Medeiros, a quem conheço
para além das páginas dos jornais. Amigo de minha família desde longes datas,
sempre o encontrei na casa da irmã, Glícia Medeiros Chamone, de quem minha tia
Mary era íntima. Educado, ético, comedido em atos e palavras, Magnus Medeiros,
que, certa feita, também foi meu professor, em anos que não convém mencionar,
destaca-se por sua inteligência refinada e rara. E como sou alguém que vive das
palavras e pelas palavras não posso deixar de sublinhar que as colunas diárias
de Magnus levam adiante tais qualidades: elas refletem o grande ser humano que
ele é.
Mais do que
o elogio raso, ele prima por dar destaque às pessoas. Culto, escreve bem e
sucintamente, compondo diariamente a história social de Montes Claros. Quem lê
sua coluna, lê acontecimentos, reflexões sobre a vida e o comportamento e ainda
pequenas lições de palavras, confirmando o que sabemos sobre a escrita
jornalística, seja ela de feição política, policial ou social.
Há algo que
verdadeiramente me encanta na escrita de Magnus: o seu amor pela coisa
bem-feita, que se ressalta desde a forma como as notícias são dadas, como pelo
fato de que, ao opinar, criticar e exercitar essa necessária filosofia da vida,
ele não se afasta, nem por uma vírgula, de sua elegância rara.
Observador
atento de nosso tempo e nossas circunstâncias, Magnus Medeiros ajuda a escrever
essa história da vida privada e ou social, evidenciando que o jornalismo social
é também um importante referente dos comportamentos, valores e modos de uma
dada região, como nos comprovam as deliciosas crônicas machadianas. Ele
próprio, o nosso Machado de Assis, responsável por difundir o gênero crônica no
país, e dono de uma pena crítica e bem-humorada, definiu, certa feita, a
crônica como “a cereja do bolo”. Ela pode não ser a parte substancial da
notícia jornalística, tampouco trazer as fundamentações ideológicas de um
editorial, mas é ela, sem dúvida, que dá substância e acabamento ao todo.
Acessível, por ser curta e se pautar nas matérias do cotidiano, ela evidencia
uma parte fundamental da nossa vida. Parte mais íntima, às vezes mais afetada,
posto que se mostre vestida de festas ou acontecimentos, mas, por isso mesmo,
essencial para que saibamos entender o nosso tempo e possamos nos postar
criticamente diante dele.
Quando leio as
crônicas de Magnus, antevejo o homem, cidadão de Montes Claros, amigo dos
amigos, filho e irmão devotado, tio admirado. Nunca vi quem fizesse uma nota de
desagravo a ele, embora ele se exponha todos os dias nos jornais. Também é
notório que ele goza do respeito e admiração por parte de seus colegas de
imprensa. Grande, mesmo em gestos pequenos, sempre dá destaque aos eventos de
outros jornalistas, exercitando a boa e difícil política da convivência.
Até onde sei,
ainda reside numa casa de tendências artdéco, como muitas de Montes Claros, que
se foram, abatidas pela sanha do progresso. Ainda é o homem que honra a palavra
e os compromissos. Ainda é o amigo a quem encontramos aqui e alhures, firme em
seus conceitos, ético em suas atitudes.
Uma das coisas
que aprendo no meu ofício é que não se pode mentir cotidianamente. As palavras,
as ditas e, principalmente as não ditas, estão pesadas de intenções e tensões.
Elas assombram nossa existência e nos resgatam, diariamente, de nossa vã
prepotência. As palavras escritas de Magnus sublinham o homem que ele é. O
mais, sabemos de sua história, sua verve poética, sua voz belíssima, seu
sorriso cortês.
Há muito anos,
quando, ainda menino, chegou a Montes Claros, fez desta a sua terra e aqui
construiu uma vida edificante e admirável. Parabéns, amigo Magnus Medeiros,
pelo grande ser humano que é!