terça-feira, 2 de outubro de 2012

1960 - ANO DOURADO


* HAROLDO LÍVIO

        
Resumo do Brasil no ano de 1960: Bossa Nova na música popular brasileira; Cinema Novo na tela; e JK inaugurando Brasília. Resumo de Montes Claros no ano de 1960: lançamento da Revista Encontro; inauguração do Cine Fátima; fundação do Conservatório Lorenzo Fernandez; e, lamentavelmente, a perda da Capela do Rosário, relíquia da história da cidade. De um encontro marcado de quatro jovens montes-clarenses, Décio Gonçalves de Queiroz, Waldyr Senna Batista, Enock Fernandes Sacramento e Lúcio Marcos Benquerer, em um escritório de Belo Horizonte, resultou a fundação da mais nova revista brasileira que, obviamente, nasceu com o nome de Revista Encontro. A publicação chegou em junho de 1960 e conquistou a simpatia e a preferência do público desde o primeiro número, cujo conteúdo foi a manipulação perfeita da receita ideal formulada pelo próprio leitor. Montes Claros, que já percorria a grande caminhada para o futuro, foi presenteada pelos editores com uma revista mensal que se tornou motivo de orgulho para todos que militavam na imprensa. Tudo nela, da capa à quarta capa, era moderno, avançado e revolucionário. Tinha redação, composição, paginação e ilustração impecáveis. Dava-se ao luxo de ter os anúncios comerciais ilustrados pela pena de Konstantin Christoff, um fundador que não pôde comparecer à reunião de fundação, embora tenha sido um verdadeiro patrono da revista. Lúcio Benquerer editou até que sua empresa exigiu dedicação integral aos negócios e foi substituído pelo jornalista Carlos Lindemberg, aí por volta de 1965. Mais tarde, dois anos depois, o novo diretor foi sucedido pelos jornalistas Jorge Silveira e Fernando Zuba. Infelizmente, a crise cíclica que fechou O Cruzeiro, Alterosa, Realidade, Visão e outros magazines de circulação nacional também fulminou a Revista Encontro, que merece ser lembrada nestes cinquenta anos de fundação, pela grande e inegável importância que alcançou em uma década de circulação a serviço da cidade e da região, sempre colocando o serviço público acima de tudo. Encontro fechou mantendo o mesmo conceito que passou a desfrutar desde o primeiro número. Conversando com o mestre Konstantin, ele se queixou de que as pessoas já se esqueceram de nossa revista. Gostaria de ter dito a ele que não é bem assim; porém calei-me, pois é a verdade.
        
O segundo presente para Montes Claros, no ano dadivoso de 1960, foi a inauguração do Cine Fátima, na Rua Dom Pedro II. Poderia ter sido inaugurado na Times Square, na Broadway, em Nova York, porque era a última palavra em conforto para o público e em tecnologia. Quem nos presenteou foi o empresário Euler de Araújo Lafetá que não teve mãos a medir nos gastos de instalação da monumental sala de espetáculos que contava com 1300 poltronas estofadas, ar-condicionado, som estereofônico de quatro faixas e tela flutuante. Foi projetado para os próximos 50 anos, que já passaram e poderia estar funcionando até hoje, na vanguarda. Neste caso, éramos felizes e sabíamos muito bem disso. O terceiro presente, digno de reis, foi a fundação do Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, materializado no momento histórico em que o prefeito Simeão Ribeiro Pires, cultor das ciências, letras e artes, entregou à fundadora Marina Lorenzo Fernandez Silva as chaves da casa que a municipalidade desapropriou para funcionamento do novel estabelecimento de ensino. O decurso do tempo confirmou a importância social do evento, impulsionando o desabrochar de vocações que poderiam ter se perdido, se não existisse a sementeira representada pelo CELF, de que a cidade tanto se ufana, por seus cantos e encantos. Como não há rosas sem espinhos, registram-se os 50 anos da derrubada da Capela de Nossa Senhora do Rosário, na Avenida Coronel Prates, por uma decisão administrativa que, desafortunadamente, errou com a intenção de acertar na solução de um problema viário. O templo estaria mal colocado em relação ao alinhamento da via pública e seria preferível sua demolição para construir no local outro com maior visibilidade para o trânsito. Assim foi pensado e executado. E as picaretas e tratores derrubaram as paredes da casa santa onde Deus fez a morada e onde moram o cálix bento e a hóstia consagrada. E onde moram os catopês, marujos e caboclinhos da festa de agosto: Joaquim Poló, Aníbal Carroceiro, Mané Quatrocento, Maria da Custodinha, Miguel Marujo... E onde também moram os mordomos e festeiros Hermes de Paula, Geraldo Athayde, Darcy Ribeiro, Cyro dos Anjos, Raimundo Chaves, Newton Prates... E onde ainda, bem adiante no futuro, deverão morar Ucho Ribeiro, Yuri Popoff, Paulo Narciso, Roy Chaves, Bernardo Brant, Tico Lopes, Zezé Colares, Yara Tupinambá, Tino Gomes, Georgino Júnior, Paulo Henrique Souto, Raquel Mendonça e mais devotos que, de qualquer forma, vêm segurando a tradição de agosto. (11/2011)

* Membro do IHGMC


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