sexta-feira, 8 de novembro de 2013

CRÔNICA:

PRÓXIMA NOTÍCIA DE MONTES CLAROS 

Lendo a crônica Notícia de jornal, de Fernando Sabino, começo a refletir sobre uma cena a qual assisti há alguns dias. O mesmo homem de Sabino, caído ao chão, morto de fome, é o mesmo mendigo-senhor com quem eu e outras pessoas nos esbarramos às seis e cinquenta da manhã, diferindo que este mendigo ainda está vivo deitado no banco da praça. Quantos anos ele tem? A sua face, com certeza, aparenta bem mais do que os dias lhe têm dito. Seu corpo é jogado de um lado e tão assustadora é sua magreza que é possível fazer se confundir seu corpo quando visto de perfil e de frente. O mendigo-senhor está ali há tantos dias que as pessoas já se acostumaram a não perceber sua presença em seus caminhos. Com apenas dez minutos faltando para a sete da manhã, encostado em um poste de luz, comecei a observar que algumas pessoas sentem medo de olhá-lo e se denunciarem cúmplices da injusta pobreza; outras não veem sequer no rosto do senhor de rua a fome que o destrói por fora e por dentro de sua pele. Há também aquelas que declaram serem os mendigos que não aceitam sair das ruas; são eles quem decide se vão ou não passar fome ou, até mesmo, morrer como o mendigo de Sabino. O mendigo-senhor precisa de tão pouco esforço para não se fazer notado que ele busca a ocupar-se de outras coisas: latir mais alto que um cão, andar melhor do que um gato e ser mais que um rato. Ainda, o mendigo-senhor se preocupa com aquela fome que o transforma em mais um bicho de Manuel Bandeira. Com o fim de dez minutos, eu permaneço ali, olhando para ele, que está olhando para o homem da padaria que, por sua vez, não sabe que o mendigo-senhor saliva por seu pão, enquanto outro homem, a dez minutos de seu trabalho, o observa de um poste de luz. O mendigo-senhor continuará sentindo a fome, as pessoas continuarão negando sua presença, e a sociedade continuará saciando a sua fome com apenas apelos levantados em cartazes ou distribuídos em palavras. Não só de palavras vive o homem, mas também do pão de cada dia, do alimento de cada mesa. O mendigo-senhor continua a lutar pela sobrevivência, até o dia - não se sabe - que a próxima notícia de jornal seja a de sua história.

Stefani Moreira Aquino Toledo
Graduanda em Letras/Inglês - Unimontes

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