SÍNTESE BIOGRÁFICA:
Elthomar Santoro Júnior nasceu em São João da Ponte-MG. Na infância e juventude, residiu em Montes Claros, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Na década de 1980, retornou a Moc, onde residiu com toda a sua família até setembro de 2014, quando faleceu.
Atuou na cena rock brasileira através do movimento punk, com a "Banda do Lixo", formada em Belo Horizonte, e que tocou em várias partes do Brasil.
Escreveu e produziu livros alternativos e espetáculos teatrais, entre eles o polêmico "O caso das galinhas do Prefeito".
Como compositor, gravou vários CD`s. Muitas de suas composições musicais se espalharam pelo país ao serem gravadas por inúmeros intérpretes.
A canção "Rapariga do Bonfim" já faz parte do imaginário coletivo nacional. Em rodas de amigos, é cantada espontaneamente, por gerações de admiradores: "Meu amor, se você for embora/vou morrer de tristeza e de desgraça,/ vou enterrar meu dente na cachaça/ se você me abandonar" (...) "És indigna/marvada,/infusada,/rapariga do Bonfim."
O Tributo
Nesta sexta-feira, dia 08 de maio, ele será homenageado com grande espetáculo musical no Corredor Cultural Padre Dudu, a partir das 20 horas, com acesso gratuito.
Artistas, amigos, parceiros, músicos e intérpretes se reúnem para celebrar e festejar a sua gigante obra musical, que não se resume à cantada e gravada, regravada - mais de 30 vezes, em diferentes versões - "Rapariga do Bonfim" (1977/1978): André Águia, Jobert Narciso, Macim da Gaita, Álvaro Vicente, o irmão Ismoro da Ponte (na bateria), Deborah Rosa, Deusdeth Rocha, Ricardo Vianna, Brown Marques, Karla Celene, Marcílio Maia, Sholmes Souto e Aroldo Pereira, numa promoção da Cultura/PMMC, com apoio da 4.5, Vianna Studios, Gráfica São Geraldo e W & W Vídeo Produções.
Compareça!
Elthomar merece!!!
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ARTIGO DE HAROLDO LÍVIO SOBRE ELTHOMAR SANTORO, PERÉ E CIA,
EM 16/10/2014
RAPARIGA DO BONFIM, ETC.
* Haroldo Lívio
Eu me preparava
para escrever algumas linhas sobre o talentoso artista Elthomar Santoro Júnior,
que nos deixou em sentido pranto, ausentes de seu agradável e doce convívio,
quando as letras e artes desta Cidade da Arte e da Cultura foram golpeadas com
a perda do nosso querido Peré.
Duas figuras
marcantes que partiram muito cedo para os campos serenos da eternidade e que
tinham em comum o amor pelas cousas do espírito, dominando cada qual uma área
específica; a música e a literatura. São específicas, sim, num primeiro olhar;
mas prestando maior atenção, verifica-se, com facilidade, que conduzem ao mesmo
destino, a poesia, que resume a beleza da vida.
Elthomar Santoro
viveu pouco. Pode-se dizer que era um jovem de 56 anos de idade, porque tinha
um comportamento juvenil, nada fazia que fosse condizente com a idade adulta.
Era roqueiro, era músico de vanguarda, era um garoto que amava os Beatles e os Rolling
Stones. Ele fazia questão absoluta de ser identificado como prosélito da
doutrina hippie, tanto que se vestia, pensava, compunha canções e carregava a
sacola e se cobria com o boné de artista engajado. Ele participou da geração
que surgiu com a criação do Centro Cultural Hermes de Paula, esta entidade que
foi concebida para funcionar como sementeira das vocações que por aqui germinam
e têm apresentado um resultado altamente positivo. Pode-se afirmar que o
surgimento deste órgão pode ser comparado ao grêmio literário dos padres
premonstratenses, há mais de cem anos, que veio incentivar o desabrochar da
geração de João Chaves, Dulce Sarmento, Elpídio Rocha e outras notabilidades do
passado.
Elthomar Santoro
foi cria do Centro Cultural e poderia ter deixado obra mais volumosa se tivesse
tido cuidado com a saúde. Lamentavelmente, não se esforçou para contribuir
ainda mais para a produção artística da cidade que tanto amava, e partiu muito
cedo. Compôs muito rock e deixou um tango, Disparate, em parceria com seu mano
Ismoro da Ponte, que o público rebatizou com a denominação de Rapariga do
Bonfim, que tem sido uma espécie de sufixo musical das grandes festas populares
da cidade. Tornou-se banal, nos fins de festanças, encerrar a noitada com a
execução do tango montes-clarense composto por dois pontenses, em meio a
aplausos e pedidos de bis.
Elthomar me
considerava uma espécie de tio, tendo até me convidado para fazer uma letra de
canção vestida por sua música. Parece que ele queria me homenagear à sua
maneira, para celebrar a amizade que sempre uniu o pai dele, Justino, ao meu
pai, Zé Luiz. Esta é uma história da amizade entre um homem e um menino. O meu
velho era o escrivão das execuções fiscais na comarca das Contendas e, volta e
meia, viajava pela zona rural cobrando dívida ativa da União. Certa vez, em São
João da Ponte, necessitou de contratar um garoto esperto, ativo, desembaraçado,
para entregar as cartas de intimação dentro da cidade. Indicaram Justino, que
se desincumbiu da tarefa a contento.
O menino continuou
trabalhando com o escrivão, e cresceu como acontece com todo mundo. Quando já
taludo, passou a viajar com o escrivão, estudou, ingressou no serviço público e
terminou sua brilhante carreira como coletor estadual. Palmas para quem merece!
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POESIA PARA ELTHOMAR
* Raquel Mendonça - Setembro de 2014
Nem pense em se desculpar me abraçando
Com um sorriso aberto, um beijo na mão
Você não tinha o menor direito
De ferir assim o meu pobre coração.
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
Tempo antes sonhava novos sons
Novos dias e noites pra curtir
Mas de repente parte sem aviso
E o que era início passa a ser fim
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
Um verdadeiro disparate a sua partida
Antes da hora, em meio a tantos dons
Tinha tanta coisa ainda a ver e ser
Na sua cantada, esperada longa vida
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
De todos foi amigo e confidente
Com todos foi leal até o fim
Se traiu, ninguém viu e ninguém soube
Afinal, era o Menino do Bonfim!
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
A lição que ficou foi de verdade
Para mim, para Bi, para a cidade
Foi bom menino, bom amigo, inesquecível
Gosto de fruta verde e de vontade
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
Coração de ouro, sensível, criativo
Era tudo de bom, puro e tão festivo
Hoje é lembrança, mais que tudo, hoje é saudade
De um tempo ido mas vivido com vontade
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
A linda canção de amor etéreo, eternizado
Que fez pensando na menina da esquina
Bem podia ter bebido só poesia
Pois só a si não tratou com mais cuidado
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
Sei que já lançou no céu o seu rock Moc
Já deixou a sua marca no universo
Mas o que eu queria mesmo, meu menino
Era que se afogasse inteiro nos seus versos
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
O que cantou e encantou está guardado
Na precisa poesia de seus poemas
Mas ficou por aqui como um dilema
Tinha tudo para ser somente amado
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino de Bonfim!
Mas se pudesse aparecer aqui de novo
Sobre um palco prá você iluminado
Só pra trazer notícias do infinito
E depois seguir, céu afora, encantado
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
Mais uma vez o abraçaremos com carinho
Acolheremos como venha, como esteja
Porque as estrelas fulgurantes são assim
Invadem sonhos e explodem em beleza
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Menino do Bonfim!
Uma lenda viva ronda hoje o país, a região
De São João da Ponte, Rio a Montes Claros
Não podia ter-nos deixado a todos tristes
Mas nos resta de você um só refrão:
Elthomar
Elthomar
Elthomar
Bom menino do Bonfim!...
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Passaria dias e noites falando do saudoso e carinhoso poeta, compositor, cantor, ator e teatrólogo, amigo meu e da minha filha, ELTHOMAR SANTORO JÚNIOR! Sua vida daria uma longa novela cheia de arte, alegria pura e poesia (da mais pura também)! Era assim Elthomar! Um mar de inspiração, em letras primorosas, em composições maravilhosas! E algumas pequenas confusões também... senão não seria o legítimo e querido Elthomar!...