Petter Frank Alkmim de Oliveira (Petter Frank), grande
artista plástico nascido em Montes Claros, em 1974, e que tem se destacado nas
modalidades desenho, pintura e escultura em cerâmica, algumas delas
impressionantes pela beleza e perfeição, retratando personalidades ilustres da
terra, concede-nos entrevista sobre a sua própria história de amor pela arte,
como começou o seu trabalho, quais as maiores influências - ou referências -
que recebeu e, principalmente, os seus maiores sonhos no setor.
- ALGUMAS DE SUAS OBRAS -
- ALGUMAS DE SUAS OBRAS -
- ENTREVISTA -
Raquel Mendonça:
A partir de quando a arte surgiu em sua
vida? Que cursos já pôde fazer nessa área?
Petter Frank:
Desde as minhas primeiras lembranças de
infância, ficou clara para mim a vocação para o desenho. Aos seis anos, já
desenhava o meu pai, por exemplo, com detalhes, quase igual a um desenho feito
por um adulto. De origem simples, possuo apenas o ensino fundamental (segundo
grau completo), tendo feito, no entanto, diversos cursos, como Desenho, Curso
de Decoração no Conservatório Estadual Lorenzo Fernandez, Eletrônica,
Serigrafia, Artes Gráficas, Designer (Photoshop e Corel Draw). Aos 17 anos,
tive contato com a escultura, quando um amigo "me apresentou à argila”.
Esta mesma pessoa me disse que não deveria esperar fazer muita coisa, pois escultura
em argila é algo bastante difícil, mesmo para pessoas que já tivessem noção de
desenho. Para espanto deste amigo, em poucos minutos consegui fazer um pequeno
busto com requintes de detalhes, como músculos e veias. Ele julgou erroneamente
que eu devia estar mentindo e, na verdade, deveria ter anos de experiência
trabalhando com aquele material! Só que realmente era a minha primeira vez.
Raquel Mendonça:
As suas esculturas em argila têm chamado a
atenção, de modo especial, para o seu trabalho artístico. De onde veio esse dom
ou com quem aprendeu tal técnica?
Petter Frank:
Ao contar para o meu pai a respeito do fato
citado, ele me falou, então, sobre o meu bisavô, conhecido como Manoel Turíbulo
(apelido este porque utilizava o turíbulo durante a missa). Fiquei sabendo,
desta forma, que ele era escultor e que, durante sessenta anos, foi sacristão
na antiga Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José. E mais, que
havia algo escrito sobre ele por Hermes de Paula no seu livro "Montes
Claros, sua história, sua gente, seus costumes". Por ter herdado este dom
que julgo ser oriundo de meu avô, comecei a pesquisar em todos os livros sobre
Montes Claros. A partir destas leituras, fiquei apaixonado pela nossa cultura e
pelo nosso passado.
Raquel Mendonça:
Qual o resultando prático de tantas
leituras e pesquisas para a sua trajetória cultural?
Petter Frank:
Esta busca, depois de vinte anos, me levou a
entrar em contato com Dona Yvonne de Oliveira Silveira, Presidente da Academia
Montesclarense de Letras, que era vizinha de meu bisavô Manoel Turíbulo, e que,
em sua crônica “Respeite a minha humilde Arte” (Montes Claros, sua história,
sua gente e seus costumes - Hermes de Paula - 1957) escreveu a respeito dele,
que faleceu em 1935. Através de escritores e/ou historiadores como Hermes de
Paula, Urbino Vianna, Nelson Vianna, Ruth Tupinambá Graça, Dario Cotrim,
consegui reunir muitas informações e conhecimento, o que me impulsionou a criar
o projeto “PINTANDO O PASSADO COM AS CORES DO PRESENTE”, no qual pretendo retratar/homenagear
pessoas que fizeram história na cidade e "ilustrar" fatos importantes
que aconteceram em Montes Claros, desde os seus primórdios até a atualidade.
Raquel Mendonça:
Onde é guardada toda a sua preciosa
produção artística? Cite alguns trabalhos de pintura, escultura ou desenho que
alcançaram o público e de que forma.
Petter Frank:
Todo o meu trabalho é exposto em meu
escritório de artes gráficas, localizado na Av. Dr. João Luiz de Almeida, 917,
Vila Guilhermina, próximo à Ponte Preta. O primeiro quadro desta série foi o
antigo Mercado Velho, demolido em 1971. Além do Mercado, juntamente com os
feirantes, retratei algumas pessoas conhecidas e populares, entre elas Manoel
Quatrocentos, Tuia, Manoel Turíbulo. Ao expor as fotos desta obra no “facebook”,
obtive um resultado bastante positivo, rendendo até uma entrevista em jornal.
Inclusive os Radialistas Benedito Said, Dhiogo Révert e Ney Gonçalves
compartilharam e fizeram um comentário sobre o meu trabalho em seu programa
“Comando das Sete”. Alguns lojistas saudosos fizeram banners para colocar em
suas lojas. Outros fizeram estampas em camisas e canecas. Quando o colunista
social Theodomiro Paulino viu um destes banners, veio ao meu escritório
conhecer este quadro. Em um de seus sábios conselhos, me disse que eu deveria
me dedicar mais à escultura, pois via através das poucas peças que possuo que o
meu dom era maior nesta área, e que aqui em Montes Claros não conhecia ninguém
que esculpisse no estilo hiper realista. Seguindo os seus conselhos, voltei a
esculpir, e já tenho duas peças quase finalizadas, faltando apenas a queima e
pintura, pintura esta que é feita através de pigmentos naturais extraídos da
terra. Ao ser finalizada, a peça se assemelha a uma escultura feita em madeira:
Raquel Mendonça:
Quais as peças ou pinturas já executadas -
e em execução - e o que ou quem lhe serviu de inspiração?
Petter Frank:
Matriz atual, Matriz antiga (baseada em uma
foto de 1909); Antigo Mercado (baseada em uma foto de 1920); Dia de Feira
(antigo mercado - 1960); Garota do Bonfim (Uma pin up - tendo ao fundo do
quadro o antigo mercado); caricatura de Yvonne Silveira; caricatura de Wagner
Black (cantor e figura exótica de Montes Claros); ex Prefeito Antônio Lafetá
Rebello (Toninho Rebello), tendo ao fundo a atual rua São Francisco; João
Pimenta dos Santos, o Mestre Zanza, Coordenador das Festas de Agosto de Montes
Claros, tendo ao fundo a Igrejinha dos Morrinhos; Capela de Nosso Senhor do
Bonfim ou Igreja do Morrinhos; Presépio (escultura); busto de Yvonne Silveira
(escultura), quase finalizado; busto de Darcy Ribeiro (escultura), quase
finalizado; busto “Uma das Meninas de Zé Coco" (escultura) e Mahatma
Gandhi (escultura). Em execução, escultura de um índio velho “Botocudo”.
Segundo Dário Cotrim, em seu livro, História Primitiva de Montes Claros, eram
estes índios que habitavam a região de Montes Claros. Interessante é que, em
1808, o rei deu uma ordem no sentido de que todos os índios botocudos fossem
abatidos como animais; Catopês (será uma série de três quadros que irão
retratar os principais mestres desta área, entre eles, Mestre Zé Expedito e
Mestre Zanza; Guerra dos Bugres (Dona Tiburtina na Revolução de 1930);
escultura de José Maria Alkmim (político importante nascido em Bocaiúva e primo
em primeiro grau de minha avó).
Raquel Mendonça:
Faça as suas considerações finais,
colocando os seus objetivos principais como artista.
Petter
Frank:
Geralmente, o artista plástico realiza uma exposição com um tema, sendo
que durante sua vida irá ter várias temáticas. O meu objetivo principal é
permanecer trabalhando com o olhar voltado para Montes Claros, nosso passado e
nossa cultura. Tendo em vista este objetivo, meus trabalhos buscam sempre
educar, fornecendo ao expectador
informações sobre fatos e pessoas importantes de nossa cidade, como, por
exemplo, Toninho Rebello ou Darcy Ribeiro (nem todos sabem a respeito da
importância de Darcy como indigenista e na área de educação para o país). Nesta
série de esculturas, há uma que trata dos escravos, é uma peça em que há um
“afrodescendente Batu “, com os grilhões e outras ferramentas de tortura usadas
naquele período. Nas costas deste escravo, há várias cicatrizes, provenientes
das chibatadas. É importante frisar que uma peça dessas causa mais impacto que
uma pintura ou uma foto, pois permite ao expectador ver todos os lados do corpo
do escravo, sentir as humilhações e o sofrimento pelas quais passou, lembrando
o doloroso período da escravatura no Brasil. Transformei o meu escritório de
Artes Gráficas em um mini museu, com objetos antigos, entre eles rádios, tvs,
livros, quadros e esculturas. Recebo sempre a visita de pessoas e estudantes
que vêm conhecer o ambiente. É um prazer imenso ver que todos querem
informações sobre cada trabalho!... Desta forma, com a minha arte, e na
simplicidade da minha situação, tento
levar cultura e conhecimento sobre o nosso passado para a geração que
construirá o futuro!... Outro objetivo nosso é expor trabalhos na Galeria de
Artes Godofredo Guedes do Centro Cultural Hermes de Paula, atendendo à sua
sugestão. Obrigado pelo apoio.
Conte conosco sempre, querido!