quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A ARTE E O ARTISTA: PETTER FRANK



Petter Frank Alkmim de Oliveira (Petter Frank), grande artista plástico nascido em Montes Claros, em 1974, e que tem se destacado nas modalidades desenho, pintura e escultura em cerâmica, algumas delas impressionantes pela beleza e perfeição, retratando personalidades ilustres da terra, concede-nos entrevista sobre a sua própria história de amor pela arte, como começou o seu trabalho, quais as maiores influências - ou referências - que recebeu e, principalmente, os seus maiores sonhos no setor.


- ALGUMAS DE SUAS OBRAS -






- ENTREVISTA -

Raquel Mendonça: 
A partir de quando a arte surgiu em sua vida? Que cursos já pôde fazer nessa área?

Petter Frank: 
Desde as minhas primeiras lembranças de infância, ficou clara para mim a vocação para o desenho. Aos seis anos, já desenhava o meu pai, por exemplo, com detalhes, quase igual a um desenho feito por um adulto. De origem simples, possuo apenas o ensino fundamental (segundo grau completo), tendo feito, no entanto, diversos cursos, como Desenho, Curso de Decoração no Conservatório Estadual Lorenzo Fernandez, Eletrônica, Serigrafia, Artes Gráficas, Designer (Photoshop e Corel Draw). Aos 17 anos, tive contato com a escultura, quando um amigo "me apresentou à argila”. Esta mesma pessoa me disse que não deveria esperar fazer muita coisa, pois escultura em argila é algo bastante difícil, mesmo para pessoas que já tivessem noção de desenho. Para espanto deste amigo, em poucos minutos consegui fazer um pequeno busto com requintes de detalhes, como músculos e veias. Ele julgou erroneamente que eu devia estar mentindo e, na verdade, deveria ter anos de experiência trabalhando com aquele material! Só que realmente era a minha primeira vez.

Raquel Mendonça
As suas esculturas em argila têm chamado a atenção, de modo especial, para o seu trabalho artístico. De onde veio esse dom ou com quem aprendeu tal técnica?

Petter Frank: 
Ao contar para o meu pai a respeito do fato citado, ele me falou, então, sobre o meu bisavô, conhecido como Manoel Turíbulo (apelido este porque utilizava o turíbulo durante a missa). Fiquei sabendo, desta forma, que ele era escultor e que, durante sessenta anos, foi sacristão na antiga Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José. E mais, que havia algo escrito sobre ele por Hermes de Paula no seu livro "Montes Claros, sua história, sua gente, seus costumes". Por ter herdado este dom que julgo ser oriundo de meu avô, comecei a pesquisar em todos os livros sobre Montes Claros. A partir destas leituras, fiquei apaixonado pela nossa cultura e pelo nosso passado.

Raquel Mendonça: 
Qual o resultando prático de tantas leituras e pesquisas para a sua trajetória cultural?

Petter Frank: 
Esta busca, depois de vinte anos, me levou a entrar em contato com Dona Yvonne de Oliveira Silveira, Presidente da Academia Montesclarense de Letras, que era vizinha de meu bisavô Manoel Turíbulo, e que, em sua crônica “Respeite a minha humilde Arte” (Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes - Hermes de Paula - 1957) escreveu a respeito dele, que faleceu em 1935. Através de escritores e/ou historiadores como Hermes de Paula, Urbino Vianna, Nelson Vianna, Ruth Tupinambá Graça, Dario Cotrim, consegui reunir muitas informações e conhecimento, o que me impulsionou a criar o projeto “PINTANDO O PASSADO COM AS CORES DO PRESENTE”, no qual pretendo retratar/homenagear pessoas que fizeram história na cidade e "ilustrar" fatos importantes que aconteceram em Montes Claros, desde os seus primórdios até a atualidade.

Raquel Mendonça: 
Onde é guardada toda a sua preciosa produção artística? Cite alguns trabalhos de pintura, escultura ou desenho que alcançaram o público e de que forma.

Petter Frank: 
Todo o meu trabalho é exposto em meu escritório de artes gráficas, localizado na Av. Dr. João Luiz de Almeida, 917, Vila Guilhermina, próximo à Ponte Preta. O primeiro quadro desta série foi o antigo Mercado Velho, demolido em 1971. Além do Mercado, juntamente com os feirantes, retratei algumas pessoas conhecidas e populares, entre elas Manoel Quatrocentos, Tuia, Manoel Turíbulo. Ao expor as fotos desta obra no “facebook”, obtive um resultado bastante positivo, rendendo até uma entrevista em jornal. Inclusive os Radialistas Benedito Said, Dhiogo Révert e Ney Gonçalves compartilharam e fizeram um comentário sobre o meu trabalho em seu programa “Comando das Sete”. Alguns lojistas saudosos fizeram banners para colocar em suas lojas. Outros fizeram estampas em camisas e canecas. Quando o colunista social Theodomiro Paulino viu um destes banners, veio ao meu escritório conhecer este quadro. Em um de seus sábios conselhos, me disse que eu deveria me dedicar mais à escultura, pois via através das poucas peças que possuo que o meu dom era maior nesta área, e que aqui em Montes Claros não conhecia ninguém que esculpisse no estilo hiper realista. Seguindo os seus conselhos, voltei a esculpir, e já tenho duas peças quase finalizadas, faltando apenas a queima e pintura, pintura esta que é feita através de pigmentos naturais extraídos da terra. Ao ser finalizada, a peça se assemelha a uma escultura feita em madeira:

Raquel Mendonça: 
Quais as peças ou pinturas já executadas - e em execução - e o que ou quem lhe serviu de inspiração?

Petter Frank: 
Matriz atual, Matriz antiga (baseada em uma foto de 1909); Antigo Mercado (baseada em uma foto de 1920); Dia de Feira (antigo mercado - 1960); Garota do Bonfim (Uma pin up - tendo ao fundo do quadro o antigo mercado); caricatura de Yvonne Silveira; caricatura de Wagner Black (cantor e figura exótica de Montes Claros); ex Prefeito Antônio Lafetá Rebello (Toninho Rebello), tendo ao fundo a atual rua São Francisco; João Pimenta dos Santos, o Mestre Zanza, Coordenador das Festas de Agosto de Montes Claros, tendo ao fundo a Igrejinha dos Morrinhos; Capela de Nosso Senhor do Bonfim ou Igreja do Morrinhos; Presépio (escultura); busto de Yvonne Silveira (escultura), quase finalizado; busto de Darcy Ribeiro (escultura), quase finalizado; busto “Uma das Meninas de Zé Coco" (escultura) e Mahatma Gandhi (escultura). Em execução, escultura de um índio velho “Botocudo”. Segundo Dário Cotrim, em seu livro, História Primitiva de Montes Claros, eram estes índios que habitavam a região de Montes Claros. Interessante é que, em 1808, o rei deu uma ordem no sentido de que todos os índios botocudos fossem abatidos como animais; Catopês (será uma série de três quadros que irão retratar os principais mestres desta área, entre eles, Mestre Zé Expedito e Mestre Zanza; Guerra dos Bugres (Dona Tiburtina na Revolução de 1930); escultura de José Maria Alkmim (político importante nascido em Bocaiúva e primo em primeiro grau de minha avó).

Raquel Mendonça: 
Faça as suas considerações finais, colocando os seus objetivos principais como artista.

Petter Frank: 
Geralmente, o artista plástico realiza uma exposição com um tema, sendo que durante sua vida irá ter várias temáticas. O meu objetivo principal é permanecer trabalhando com o olhar voltado para Montes Claros, nosso passado e nossa cultura. Tendo em vista este objetivo, meus trabalhos buscam sempre educar, fornecendo  ao expectador informações sobre fatos e pessoas importantes de nossa cidade, como, por exemplo, Toninho Rebello ou Darcy Ribeiro (nem todos sabem a respeito da importância de Darcy como indigenista e na área de educação para o país). Nesta série de esculturas, há uma que trata dos escravos, é uma peça em que há um “afrodescendente Batu “, com os grilhões e outras ferramentas de tortura usadas naquele período. Nas costas deste escravo, há várias cicatrizes, provenientes das chibatadas. É importante frisar que uma peça dessas causa mais impacto que uma pintura ou uma foto, pois permite ao expectador ver todos os lados do corpo do escravo, sentir as humilhações e o sofrimento pelas quais passou, lembrando o doloroso período da escravatura no Brasil. Transformei o meu escritório de Artes Gráficas em um mini museu, com objetos antigos, entre eles rádios, tvs, livros, quadros e esculturas. Recebo sempre a visita de pessoas e estudantes que vêm conhecer o ambiente. É um prazer imenso ver que todos querem informações sobre cada trabalho!... Desta forma, com a minha arte, e na simplicidade da minha situação, tento  levar cultura e conhecimento sobre o nosso passado para a geração que construirá o futuro!... Outro objetivo nosso é expor trabalhos na Galeria de Artes Godofredo Guedes do Centro Cultural Hermes de Paula, atendendo à sua sugestão. Obrigado pelo apoio.

Conte conosco sempre, querido!

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