Quando Jesus disse “não saiba a vossa mão esquerda o que dá
a direita”, ele falava sim, sobre o silêncio que deve revestir o ato de amor
que cada um de nós pode fazer em relação a quem precisa de nossa ajuda. Mas ele
dizia isso para pessoas que, individualmente e por iniciativa própria, podem
ajudar o próximo sem nada esperar em troca. Isso porque, já naquela época de
Jesus, 2 mil anos atrás, havia a atuação dos hipócritas, que se vangloriavam de
fazer a caridade à frente de todo mundo, mas o faziam apenas para se promoverem
ou para tirar alguma vantagem do bem que estavam fazendo.
Você sabe, que a caridade verdadeira não espera nenhum tipo
de recompensa, a não ser a satisfação de ajudar ou a satisfação consigo mesmo.
Essa prática não busca reconhecimento e nem aplauso de ninguém. Isto,
repetimos, é valido para a ação pessoal, individual, de cada um de nós, no
dia-a-dia de sua vida, seja em relação à caridade material ( quando damos
dinheiro ou coisas a pessoas), seja em relação à caridade moral, ou seja, a capacidade
de darmos amor às pessoas – atenção, apoio, solidariedade, compreensão (
principalmente as da nossa convivência diária), sem alardear nosso
comportamento.
Quanto às associações de filantropia, principalmente as
entidades religiosas, que fazem o bem em nome de Jesus – aquelas que se voltam
ao atendimento da população mais carente - é claro que elas precisam aparecer;
caso contrário, não poderão prestar o seu serviço de âmbito social, pois o que
fazem não depende apenas de uma ou duas pessoas, mas de uma coletividade
inteira, a que deve recorrer constantemente, pedindo ajuda. Quando a entidade
faz divulga o seu trabalho é, portanto, no sentido de buscar apoio e
colaboração, até porque a comunidade só vai se dispor a ajudar, se reconhecer
que há seriedade e compromisso com o bem social.
Neste caso, para seguir o princípio estabelecido por Jesus,
deve-se se esforçar no sentido de que apenas a instituição apareça e mostre o
seu serviço, mas não as pessoas que nela prestam serviço, justamente para se evitar que essas pessoas sejam estimuladas na sua vaidade. Deve-se, portanto, dentro das
possibilidades, fazer um esforço nesse sentido, se bem que não é fácil esconder
o trabalho daqueles que realmente se dedicam ao próximo em obras assistenciais,
porque eles normalmente aparecem, mesmo que não queiram. Veja, por exemplo, o
trabalho de vulto da Madre Tereza de Calcutá, que se espalhou por todos os
continentes. Querendo ou não, Madre Tereza teve de aparecer e se mostrar ao
mundo.
Mas o que importa de fato é que
ninguém se vanglorie a si mesmo em estar atuando numa causa de beneficência,
mas que cada um dos trabalhadores voluntários das entidades leve isso a conta
de uma missão de que está incumbido. A par disso, o que podemos concluir? Que
os trabalhadores de boa vontade, que se dedicam a obras assistenciais, não
saiam por aí proclamando “eu fiz isso, eu fiz aquilo”, ostentando-se diante das
pessoas, promovendo-se em virtude de seu trabalho ou querendo tirar proveito do
que fizeram para obter vantagens pessoais. Neste caso – ou seja, mesmo quando
essas pessoas queiram se promover, é claro que temos de reconhecer que elas
fizeram um bem, mas, se vivem se elogiando por isso, com certeza já receberam
sua recompensa.
Contudo, este é um problema muito pessoal e delicado, que
devemos tratar com cuidado e ponderação. Não é à sociedade ou à ninguém que
cada um de nós vai prestar contas pelo que faz consigo mesmo; mas, sim, à sua
própria consciência, onde está a Lei de Deus. Por isso, que cada um de nós se
cuide para fazer o melhor que possa em favor de sua própria paz interior. Isso
é que é importante. Para a instituição de caridade o que vale, de imediato, é
atender a quem precisa, mas para o trabalhador voluntário o que deveria valer -
se é que ele quer seguir os princípios morais de Jesus - é a conquista
espiritual que se dá no silêncio de seu coração.
*Texto do programa "Momento Espírita", apresentado
pela UNIRÁDIO AM 1060 Khz, edição de 04/08/2013.
" Se puderes, ajuda os outros.
Se não o puderes fazer, ao
menos não lhes faça mal."
- Dalai Lama -