* Raquel Mendonça
Nada há mais pobre e podre, de
tão pequeno, velho e putrefato, do que os famigerados - "inveterados e
falsamente legitimados", como diria Camilo Castelo Branco - preconceitos
de raça/cor, credo/religião, condição sócio-econômica, orientação sexual, etc.
E quão arraigados, radicados, profundamente entranhados estão tais
preconceitos, na mente e coração de um número assustador de pessoas em nosso
redor ou espalhadas pelo país e mundo inteiro!
Quando participávamos de Encontros
Populares de Cultura Brasil afora, sempre nos inscrevíamos em "Arte
Popular" e "Preconceito de Cor", fazendo questão de debater a
necessidade de valorização da cultura popular e suas ricas, extraordinárias
manifestações - toda "a peleja do bumba meu boi contra o vampiro do meio
dia" - e a busca pelo fim da inacreditável segregação racial, tendo sido
questionada, certa vez, por uma das mulheres negras participantes do debate:
"o que essa loura está fazendo aqui?!" "O mesmo que você,
respondi, já que não sou apenas branca, mas negra e índia também, porque
brasileira, aliás, a minha alma tem o traço de todas as cores e raças do
mundo!", disse. E li, nessa ocasião, ao retomar a palavra, o maravilhoso e
aplaudido manifesto de Ângela Márcia Braga, amiga e também jornalista,
militante do movimento negro tanto quanto eu! A cor da pele é somente isso e
nada mais do que isso: a cor da pele!...
O preconceito de cor é tão
devastador que, por mais que sejamos dele testemunha ou tomemos conhecimento de
algum crime racial, como o que vitimou absurdamente Frederico Antônio Nunes e
seu filho de dezesseis anos, dentro e fora de uma joalheria situada próximo à
Praça Coronel Ribeiro da cidade, que fico me perguntando o que há no interior
de pessoas que "suspeitam" de um cliente pela cor de sua pele ou
pelas roupas que veste e ainda se atrevem a chamar a polícia, quando ele e seu
filho é que estavam no direito de fazê-lo!!!
Um pai de família honrado,
trabalhador, acompanhado de seu filho de apenas dezesseis anos, passar por
tamanho constrangimento público e agressões, porque é preto, é negro?! Aliás,
foram os dois vítimas da mesma violência, virulência! Onde foi parar a cartilha
da educação básica de civilidade que ensina que somos todos iguais,
independente de raça, cor, credo, religião, condição?! Desde quando ser negro é
ser suspeito de algo? Suspeito de ser um ser humano muito melhor do que muitos
de outra cor ou vestimenta, como ele mesmo colocou?! Discriminação, humilhação,
sofrimento e quem não chorou junto a ele diante de tal notícia infame, em
frente à Tv? Como não se indignar, não se abalar, não se manifestar?! Como não
lhes implorar, em nome de todos, perdão?!!!
As desculpas são extensivas à sua
esposa, Deizielle de Moura, e a toda sua família! É preciso deixar um beijo no
coração desse jovem menino - Deus o livre, proteja e guarde sempre! -, que teve
de passar por uma situação para ele no mínimo inimaginável. Você é muito maior
e melhor, meu filho, do que aqueles que lhes causaram um momento tão injusto e
de tão inesperada, inaceitável dor!
Tenho apenas um tipo de
preconceito, sim, mas contra pessoas de mau caráter e coração, que podem ter
qualquer tipo de cor - branca, preta, amarela, vermelha -; vestir qualquer tipo
de roupa - como um belo terno (...) ou traje de marca, por exemplo, comprado no
exterior, made in Paris... -, e são capazes de destratar e desrespeitar pessoas
do bem dessa maneira vil, atingindo, na verdade, toda a sociedade, porque me
senti igualmente ferida e maltratada!...
Os preconceitos, já tão
deteriorados e contaminados em si mesmos, deveriam ir todos para o cesto de
lixo da mente e coração de cada um, dando lugar à igualdade, sob todos os
aspectos, que não permite tal brutal intromissão!!
Abaixo o preconceito! De todos os
tipos e modos de ação!