quarta-feira, 22 de junho de 2016

- A MEMÓRIA E A MATÉRIA -

 Memória versus Valor Material

*Raquel Mendonça


A importância e a riqueza do patrimônio histórico ou cultural para uma cidade são gigantes, incontestáveis! Como bem disse o grande Promotor de Justiça Estadual, Dr. Marcos Paulo de Souza Miranda, Coordenador da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico do Estado de Minas Gerais, durante brilhante palestra por ele proferida no auditório da OAB há alguns anos: "todas as cidades são históricas, porque todas elas têm a sua própria história; algumas têm maior destaque pela relevância para a história do Estado". Ou seja, Minas Gerais tem, hoje, 853 municípios ou cidades históricas, que são todas, pois todas têm, igualmente, o seu berço histórico, a sua origem, o seu nascedouro!...

Onde nasceu Montes Claros?! Em redor da hoje Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, na histórica Praça Dr. Chaves/da Matriz e adjacências, porque aquela que foi a primeira casa de Montes Claros, que deu origem à cidade, sede da antiga Fazenda dos Montes Claros, edificada pelo Alferes José Lopes de Carvalho, em 1768, após adquiri-la em mão de Manoel Ângelo, filho do fundador de Montes Claros, Antônio Gonçalves Figueira, que havia retornado para Santos, ficava situada na atual Rua Dona Eva (Eva Bárbara Teixeira de Carvalho), n° 40, até 1975, resistindo bravamente e por longo tempo à quase total insensibilidade histórica! O Dr. Antônio Teixeira de Carvalho, o Dr. Santos, que dá nome à rua principal da cidade, quando Prefeito de Montes Claros, nos idos de 1940, quis "reformá-la" (ainda não se falava em restauro ou restauração), e transformá-la no que teria sido o primeiro Museu de História de Montes Claros, não conseguindo, no entanto, apoio político ou comunitário para tal, tendo sido obrigado a arquivar o projeto do que seria, sem dúvida, a maior preciosidade histórica do município!

O Centro ou Núcleo Histórico de Montes Claros é formado, pois, pela Praça Dr. Chaves e ruas adjacentes - Área de Preservação ou Perímetro Histórico do Município -, entre elas a Rua Dona Eva, Rua Artur Lobo, Rua Cel. Celestino, Rua Cabo Santana, Travessa José de Alencar, Rua Justino Câmara, Rua Altino de Freiras, Rua Padre Teixeira... - onde conseguimos arduamente manter em pé inúmeras casas de feições tradicionais, mas, na penúltima Sexta-Feira da Paixão até o domingo, uma casa que ficava localizada na Rua Justino Câmara foi ao chão, agressivamente, comprometendo a casa ao lado. (A)normalmente o fazem na calada da noite, em dias em que não há fiscalização municipal, com as máquinas trabalhando noite adentro, para transformarem em que?! Em mais um mero estacionamento... Quantos casarões, sobrados, verdadeiros palácios; belos chalés inventariados pelo município e/ou IEPHA/MG, foram demolidos irregular e "apressadamente" (sem Autorização de Demolição que só é expedida pela Gerência de Fiscalização e Regulação de Edificações da Secretaria Municipal de Infra-Estrutura e Planejamento Urbano/Obras, depois de processo nesse sentido), no centro e entorno da cidade de igual maneira - feriado e finais de semana -, porque a memória conta muito pouco para muitas famílias, maioria delas socioeconomicamente bem situadas, mas apenas o valor monetário, material, do bem imóvel. A importância arquitetônica, artística, cultural e histórica da edificação passa longe de seus únicos e "reais" interesses! A memória não tem, para eles, nenhum valor!...

Quanto à antiga e popular "Cachaçaria de Durães", casa também de feições tradicionais, não tombada pelo município, mas inventariada pelo Estado, através do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - IEPHA/MG, em 1985, dentro do Primeiro Inventário de Proteção do Acervo Cultural de Montes Claros - IPAC/MONTES CLAROS, nas áreas de história, arquitetura, bens móveis, arte aplicada, espeleologia e arqueologia - situada na Rua Justino Câmara, n°s. 67/69/Entorno Histórico Nobre da cidade, ela foi cercada (e somente se cerca uma casa, normalmente, para obras de intervenção emergencial ou restauro) para restauração, com manutenção da fachada frontal, porque as paredes internas, de tão degradadas, desabaram, e algumas delas serão devidamente reconstruídas, obedecendo às características arquitetônicas originais, com base no projeto do arquiteto e urbanista Sidcley Barbosa e da designer gráfica Cecília Lenoir, aprovado pelo setor responsável e pelo COMPAC.

A luta é de todos! A história da cidade a todos pertence! A consciência da importância de sua preservação vai crescendo aos poucos! Mas é preciso mais!...

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