Memória versus Valor Material
*Raquel Mendonça
A importância e a riqueza do patrimônio histórico ou
cultural para uma cidade são gigantes, incontestáveis! Como bem disse o grande
Promotor de Justiça Estadual, Dr. Marcos Paulo de Souza Miranda, Coordenador da
Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico
do Estado de Minas Gerais, durante brilhante palestra por ele proferida no
auditório da OAB há alguns anos: "todas as cidades são históricas, porque
todas elas têm a sua própria história; algumas têm maior destaque pela
relevância para a história do Estado". Ou seja, Minas Gerais tem, hoje,
853 municípios ou cidades históricas, que são todas, pois todas têm,
igualmente, o seu berço histórico, a sua origem, o seu nascedouro!...
Onde nasceu Montes Claros?! Em redor da hoje Igreja Matriz
de Nossa Senhora da Conceição e São José, na histórica Praça Dr. Chaves/da
Matriz e adjacências, porque aquela que foi a primeira casa de Montes Claros,
que deu origem à cidade, sede da antiga Fazenda dos Montes Claros, edificada
pelo Alferes José Lopes de Carvalho, em 1768, após adquiri-la em mão de Manoel
Ângelo, filho do fundador de Montes Claros, Antônio Gonçalves Figueira, que
havia retornado para Santos, ficava situada na atual Rua Dona Eva (Eva Bárbara
Teixeira de Carvalho), n° 40, até 1975, resistindo bravamente e por longo tempo
à quase total insensibilidade histórica! O Dr. Antônio Teixeira de Carvalho, o
Dr. Santos, que dá nome à rua principal da cidade, quando Prefeito de Montes
Claros, nos idos de 1940, quis "reformá-la" (ainda não se falava em
restauro ou restauração), e transformá-la no que teria sido o primeiro Museu de
História de Montes Claros, não conseguindo, no entanto, apoio político ou
comunitário para tal, tendo sido obrigado a arquivar o projeto do que seria,
sem dúvida, a maior preciosidade histórica do município!
O Centro ou Núcleo Histórico de Montes Claros é formado,
pois, pela Praça Dr. Chaves e ruas adjacentes - Área de Preservação ou Perímetro
Histórico do Município -, entre elas a Rua Dona Eva, Rua Artur Lobo, Rua Cel.
Celestino, Rua Cabo Santana, Travessa José de Alencar, Rua Justino Câmara, Rua
Altino de Freiras, Rua Padre Teixeira... - onde conseguimos arduamente manter
em pé inúmeras casas de feições tradicionais, mas, na penúltima Sexta-Feira da
Paixão até o domingo, uma casa que ficava localizada na Rua Justino Câmara foi
ao chão, agressivamente, comprometendo a casa ao lado. (A)normalmente o fazem
na calada da noite, em dias em que não há fiscalização municipal, com as
máquinas trabalhando noite adentro, para transformarem em que?! Em mais um mero
estacionamento... Quantos casarões, sobrados, verdadeiros palácios; belos
chalés inventariados pelo município e/ou IEPHA/MG, foram demolidos irregular e
"apressadamente" (sem Autorização de Demolição que só é expedida pela
Gerência de Fiscalização e Regulação de Edificações da Secretaria Municipal de
Infra-Estrutura e Planejamento Urbano/Obras, depois de processo nesse sentido),
no centro e entorno da cidade de igual maneira - feriado e finais de semana -,
porque a memória conta muito pouco para muitas famílias, maioria delas
socioeconomicamente bem situadas, mas apenas o valor monetário, material, do
bem imóvel. A importância arquitetônica, artística, cultural e histórica da
edificação passa longe de seus únicos e "reais" interesses! A memória
não tem, para eles, nenhum valor!...
Quanto à antiga e popular "Cachaçaria de Durães",
casa também de feições tradicionais, não tombada pelo município, mas
inventariada pelo Estado, através do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico
e Artístico de Minas Gerais - IEPHA/MG, em 1985, dentro do Primeiro Inventário
de Proteção do Acervo Cultural de Montes Claros - IPAC/MONTES CLAROS, nas áreas
de história, arquitetura, bens móveis, arte aplicada, espeleologia e
arqueologia - situada na Rua Justino Câmara, n°s. 67/69/Entorno Histórico Nobre
da cidade, ela foi cercada (e somente se cerca uma casa, normalmente, para
obras de intervenção emergencial ou restauro) para restauração, com manutenção
da fachada frontal, porque as paredes internas, de tão degradadas, desabaram, e
algumas delas serão devidamente reconstruídas, obedecendo às características
arquitetônicas originais, com base no projeto do arquiteto e urbanista Sidcley
Barbosa e da designer gráfica Cecília Lenoir, aprovado pelo setor responsável e
pelo COMPAC.