A Igrejinha do Rosário
ou dos Catopê
-Agosto/2016-
-Agosto/2016-
* Raquel Mendonça
O livro "O
Patrimônio Histórico de Montes Claros", de Milene Antonieta Coutinho
Maurício, traz nas páginas 43 e 44 o seguinte comentário de Nelson Vianna,
extraído do "Efemérides Montes-clarenses": Em 22 de maio de 1839, em
resposta aos devotos de Nossa Senhora do Rosário, que requeriam lugar para a
edificação do templo, o Fiscal da Câmara de Montes Claros de Formigas
recomendou que se deferisse o pedido, ficando a rua com 45 palmos de largura,
devendo a nova via ter, em sua entrada, nessa praça, uma direção reta. A igreja
que se pretendia construir era a do Rosário, que permaneceu, por mais de um
século, no início da atual avenida Cel. Prates, naquele tempo, rua do Jatobá.
Trazia indevidamente, na fachada, a data 1834 sobre a porta principal. Foi
condenada pela Prefeitura Municipal de Montes Claros, que a demoliu em
1960." Há controvérsia: a demolição se deu mesmo em 1960 ou 1962?!
Há quem afirme
que a sua demolição se deu em 1962, para dar livre trânsito à hoje Avenida
Coronel Prates. "E a Festa de Agosto ficou sem sua Igreja...",
lamentou profundamente Hermes Augusto de Paula, o maior apoiador, verdadeiro
esteio das Festas de Agosto de Montes Claros de todos os tempos, ao ponto de os
grupos terem criado um belo cântico em sua homenagem:
"Viva Dr. Hermes
Dr. Hermes de Paula
Foi ele que construiu
A Igrejinha do
Rosário." Oia lá!...
Assim, graças à intensa
batalha do grande historiador e folclorista, Hermes de Paula, edificou-se uma
nova capela, com linhas modernas, inspirada nas barcas dos Marujos ou Marujada,
a Nau Catarineta, construída pelos próprios Catopês.
O então Prefeito,
Simeão Ribeiro Pires (grande historiador, arqueólogo e escritor,
membro-fundador e presidente do antigo Conselho Municipal do Patrimônio
Histórico, Artístico e Cultural de Montes Claros - COMPHAC, junto a nós,
Virgílio Abreu de Paula e Arthur Jardim de Castro Gomes) decidira pela
demolição da Igrejinha do Rosário, porque ela, na sua opinião,
"atravessava" a hoje avenida, com Hermes se colocando ferrenhamente
contra a demolição da Capela. Como não conseguiu "vencer a guerra"
travada com a Prefeitura, pela sua conservação, obteve êxito, por outro lado,
ao convencer o Prefeito da necessidade de construção de uma nova igreja no
mesmo local - ou quase - para que as Festas de Agosto não acabassem!... E
alcançou seu objetivo, chegando até mesmo a "perdoar" Simeão, pela
boa vontade por ele demonstrada ao aceitar a sugestão da construção da nova
igrejinha, o que foi registrado na segunda edição de seu livro "Montes
Claros, sua história, sua gente, seus costumes".
A ideia da
edificação de uma Capela nos moldes de uma barca de Marujos foi aceita por
Simeão, cuja construção teve as mãos motivadas e hábeis de membros do 1° Grupo
de Catopês de Nossa Senhora do Rosário, chefiado pelo grande Mestre Zanza, como
pedreiros e serventes de pedreiro, incluído o próprio Zanza, que já era Mestre
de Catopê havia muito tempo.
O autor do projeto
foi o extraordinário arquiteto Dr. Mércio Guimarães, sobrinho, segundo a sua
filha Érika e também grande arquiteta e urbanista, do famoso construtor
Chiquinho Guimarães (da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida). O
Engenheiro responsável? João Carlos Sobreira, com Zeca Guimarães cuidando da
parte administrativa. Era o chamado "Mestre de Obras", conforme
Érika, que, por sinal, foi ela a assinar, junto a Clarissa de Oliveira Neves, o
admirável projeto, fase a fase, de restauração ou restauro do Sobrado da Escola
Normal/FAFIL ("Prédio da FAFIL"), hoje Museu Regional do Norte de
Minas.
Há quem afirme que
Padre Dudu queria a reconstrução da igreja tal qual a antiga e que Hermes a
queria moderna, em homenagem às Festas. Ganhou a ideia da igreja moderna,
usando metal e alvenaria. Como grandes apoiadores do projeto da nova Capela são
citados ainda os nomes de Toninho Rebello, Edgar Martins Pereira, que era
também grande defensor dos Catopês, tendo manifestado amplamente a sua profunda
admiração pelas Festas de Agosto em reunião no antigo Clube Montes Claros, de
que participava o então Governador de Minas e muitas outras autoridades; Ademar
Santos, que doou a ferragem e o cimento; Pedro Santos e muitos outros fãs das
festas ou devotos de Nossa Senhora do Rosário, de São Benedito e do Divino
Espírito Santo!...
A igreja permaneceu inacabada por décadas, porque Mércio Guimarães a queria nos mesmos moldes da Igrejinha de São Francisco, na região da Pampulha, de Belo Horizonte, com mosaicos nas fachadas frontal e laterais. Para Érika Neves Guimarães, o projeto original de seu pai foi inteiramente respeitado, não descaracterizado, com a capela recebendo acabamento sóbrio e adequado.
Situada na Praça
Portugal (Avenida Coronel Prates), a Igrejinha do Rosário foi finalmente
restaurada, tendo à frente o nome do Padre Fernando Soares de Almeida, o novo
"Padre dos Catopês"! Os autores do projeto foram Gil Rocha e Daniel
Ortiga, com Daniel tendo sido o seu Responsável Técnico. No fundo da Igreja,
foi feito painel em cerâmica, com base em croqui do arquiteto Mércio, conforme
a filha Érika, pela artista Conceição Melo e equipe.
A Igrejinha do
Rosário ou Igrejinha dos Catopês ainda precisa da ajuda financeira de todos
para término das obras e devida restauração do Cruzeiro, especialmente após ser
vítima de assaltos, tendo um dos marginais levado o valor da coleta, após a
Missa de Encerramento das Festas, quando, durante a Homilia, o Padre Fernando
solicitou dos presentes ajuda generosa, a fim de poder concluir as obras da
Capela, lembrando ainda a necessidade de restauração do Cruzeiro!
Que todos possam
estender a mão e o coração à Igrejinha de Nossa Senhora do Rosário! E viva a
para sempre Igreja dos Catopês, viva!...
* Promotora Cultural,
Historiadora, Jornalista e Escritora
Gerente de Preservação e Promoção
do Patrimônio Cultural de Montes Claros/Secretaria Municipal de
Cultura/Prefeitura de Montes Claros