Catopê Contemporâneo
Por Prof. Me. Lucas Carvalho
As Festas de Agosto
montes-clarenses contam com 178 anos de tradição. Patrimônio Imaterial mais
emblemático da cidade e ícone dos festejos, o Congado daqui, conhecido pelo
nome de “Catopê”, distingue-se dos seus parentes, pois que traz, nos seus
cortejos, reis e rainhas infantes, ao invés de homens velhos.
Enquanto tradição enraizada à
cultura local, o Catopê montes-claresense conserva, como é próprio das
manifestações imateriais, seus signos particulares: a roupa branca, as fitas
coloridas, os capacetes adornados com penas de pavão, os estandartes e cores
referentes à Nossa Senhora do Rosário - azul; São Benedito - rosa e ao Divino
Espírito Santo - vermelha; os cantos e saudações, dentre outras características
que, quando somadas, dão o tom das celebrações e compõem uma imagem histórica e
afetiva que move o imaginário coletivo dos habitantes da região.
Trata-se de imagem forte, que se
produz exatamente a partir da recorrência. Dada a imaterialidade do patrimônio,
sua preservação requer repetição; a manutenção dos seus atributos e sua
reafirmação continuada por parte dos participantes, quando em ação nos dias de
preparação e de festa. Dessa forma, as mudanças na tradição - ainda que
inevitáveis - são pequenas e demoradas. A mobilidade da vida, passadiça, demanda
a permanência iconográfica para o exercício da salvaguarda do objeto cultural.
Se, por um lado, pelo Catopê, a
imagem busca a manutenção da estabilidade, por outro, pelo lado da Arte
Contemporânea, a proposta é diametralmente avessa: desde a Modernidade,
técnicas, temas e signos têm visto a sua elasticidade ser testada aos limites
pelos artistas - neste meio, não há algo que não possa ser alterado,
reformulado, ressignificado.
É desse cotejo entre tão
distintos programas que nasce o nome da exposição aqui em cartaz e o desafio
colocado por ela aos seus artistas: como abordar o tema do Catopê, integrando
as “Festas de Agosto”, sem desvirtuar a tradição, mas não deixando de explorar
as possibilidades de lida temática proporcionadas pelas linguagens contemporâneas.
O resultado, heterógeno como é de
se esperar, igualmente aponta para dois lados que, em cada obra, se organizam
de maneira exemplar, ora pendendo para um, ora pendendo para outro: o
contraste, presente nesses jovens artistas, entre o cidadão global, fruto do
espaço virtual de um mundo em intermitente conexão, e o cidadão regional, fruto
da materialidade geográfica e das memorias de uma localidade específica.
Falam pelo primeiro o uso de
técnicas que envolvem novas mídias, ou que referenciam elementos virtuais, o
pensamento decolonial e a apropriação de referências diversificadas, como a
cultura de massa, a linguagem jornalística ou os desenhos naturalistas de outra
época.
E falam pelo segundo o respeito
pelos valores da tradição, a sensibilidade para com a memória afetiva coletiva
e seus ícones, a historicidade particular de muitas festas passadas na cidade e
o desejo por contribuir para a celebração desse momento especial.
Universos aparentemente
dissonantes, mas que aqui se unem por dois laços bastante específicos: a origem
dos artistas, a maioria nascida e criada em Montes Claros ou redondezas, e um
elemento particular, capaz de colocar em comunhão Patrimônio Imaterial e Arte
Contemporânea: a artesania.
Assim como o Catopê produz seus
capacetes e detalhes da roupa, ano após ano, a partir da mais pura destreza
manual, agregando e organizando minuciosamente seus elementos, as obras da
exposição “Catopê Contemporâneo” são resultado de igual investimento produtivo,
cuidadosamente feitas pela manufatura particular de cada artista, que aos seus
talentos e intenções aplicou alta dose de labor artesanal, mesmo que
intermediado por dispositivos eletrônicos - são, ao seu modo, a peça que cada
um pode produzir para participar da festa.
Com esse esforço coletivo, os
artistas, acadêmicos e ex-acadêmicos do Curso de Licenciatura em Artes Visuais
da Unimontes, demonstram, claramente, o que se espera de um curso de arte
situado em espaço regional; olhar e atuar dentro das perspectivas expressivas
do mundo contemporâneo, sem descuidar da cultura local. Esforço este
compartilhado pelo Museu Regional do Norte de Minas, e por muitos outros
listados aqui abaixo, que contribuíram enormemente para a montagem desta
mostra.
Agradecimentos:
Profª. Marina Ribeiro Queiroz e toda a equipe do Museu
Regional do Norte de Minas; Profª. Silvana Diamantino França, Lérica Veloso e equipe
do PIBID; Pró-Reitor de Pesquisa Virgílio Mesquita Gomes e equipe da
Pró-Reitoria de Pesquisa; ASCOM- UNIMONTES; Docentes do Curso de Licenciatura
em Artes Visuais - UNIMONTES e Departamento de Artes; João Pimenta dos Santos,
Mestre Zanza, Coordenador das Festas de Agosto e Presidente da Associação dos
Grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros; Philipe Nunes;
grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos e Raquel Mendonça, Gerente de
Preservação e Promoção do Patrimônio Histórico e Cultural de Montes
Claros/Secretaria Municipal de Cultura/Prefeitura de Montes Claros.
*Matéria da Inter TV sobre a Exposição:
G1 - Unimontes e CAA realizam programação especial durante as Festas de Agosto
*Matéria da Inter TV sobre a Exposição:
G1 - Unimontes e CAA realizam programação especial durante as Festas de Agosto
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A Arte e Fatos deseja
sucesso ao querido amigo, professor Lucas Carvalho, e o parabeniza por tão belo
trabalho! Confiram a Exposição "Catopê Contemporâneo" que está
montada no Museu Regional do Norte de Minas/Unimontes. Corredor Cultural Padre
Dudu - Rua Coronel Celestino, n° 75. Centro Histórico de Montes Claros, onde
permanecerá até outubro deste ano.