terça-feira, 15 de agosto de 2017

- EXPOSIÇÃO -

Catopê Contemporâneo

Por Prof. Me. Lucas Carvalho

As Festas de Agosto montes-clarenses contam com 178 anos de tradição. Patrimônio Imaterial mais emblemático da cidade e ícone dos festejos, o Congado daqui, conhecido pelo nome de “Catopê”, distingue-se dos seus parentes, pois que traz, nos seus cortejos, reis e rainhas infantes, ao invés de homens velhos.

Enquanto tradição enraizada à cultura local, o Catopê montes-claresense conserva, como é próprio das manifestações imateriais, seus signos particulares: a roupa branca, as fitas coloridas, os capacetes adornados com penas de pavão, os estandartes e cores referentes à Nossa Senhora do Rosário - azul; São Benedito - rosa e ao Divino Espírito Santo - vermelha; os cantos e saudações, dentre outras características que, quando somadas, dão o tom das celebrações e compõem uma imagem histórica e afetiva que move o imaginário coletivo dos habitantes da região.

Trata-se de imagem forte, que se produz exatamente a partir da recorrência. Dada a imaterialidade do patrimônio, sua preservação requer repetição; a manutenção dos seus atributos e sua reafirmação continuada por parte dos participantes, quando em ação nos dias de preparação e de festa. Dessa forma, as mudanças na tradição - ainda que inevitáveis - são pequenas e demoradas. A mobilidade da vida, passadiça, demanda a permanência iconográfica para o exercício da salvaguarda do objeto cultural.

Se, por um lado, pelo Catopê, a imagem busca a manutenção da estabilidade, por outro, pelo lado da Arte Contemporânea, a proposta é diametralmente avessa: desde a Modernidade, técnicas, temas e signos têm visto a sua elasticidade ser testada aos limites pelos artistas - neste meio, não há algo que não possa ser alterado, reformulado, ressignificado.

É desse cotejo entre tão distintos programas que nasce o nome da exposição aqui em cartaz e o desafio colocado por ela aos seus artistas: como abordar o tema do Catopê, integrando as “Festas de Agosto”, sem desvirtuar a tradição, mas não deixando de explorar as possibilidades de lida temática proporcionadas pelas linguagens contemporâneas.


  
O resultado, heterógeno como é de se esperar, igualmente aponta para dois lados que, em cada obra, se organizam de maneira exemplar, ora pendendo para um, ora pendendo para outro: o contraste, presente nesses jovens artistas, entre o cidadão global, fruto do espaço virtual de um mundo em intermitente conexão, e o cidadão regional, fruto da materialidade geográfica e das memorias de uma localidade específica.

Falam pelo primeiro o uso de técnicas que envolvem novas mídias, ou que referenciam elementos virtuais, o pensamento decolonial e a apropriação de referências diversificadas, como a cultura de massa, a linguagem jornalística ou os desenhos naturalistas de outra época.

E falam pelo segundo o respeito pelos valores da tradição, a sensibilidade para com a memória afetiva coletiva e seus ícones, a historicidade particular de muitas festas passadas na cidade e o desejo por contribuir para a celebração desse momento especial.

Universos aparentemente dissonantes, mas que aqui se unem por dois laços bastante específicos: a origem dos artistas, a maioria nascida e criada em Montes Claros ou redondezas, e um elemento particular, capaz de colocar em comunhão Patrimônio Imaterial e Arte Contemporânea: a artesania.

Assim como o Catopê produz seus capacetes e detalhes da roupa, ano após ano, a partir da mais pura destreza manual, agregando e organizando minuciosamente seus elementos, as obras da exposição “Catopê Contemporâneo” são resultado de igual investimento produtivo, cuidadosamente feitas pela manufatura particular de cada artista, que aos seus talentos e intenções aplicou alta dose de labor artesanal, mesmo que intermediado por dispositivos eletrônicos - são, ao seu modo, a peça que cada um pode produzir para participar da festa.



Com esse esforço coletivo, os artistas, acadêmicos e ex-acadêmicos do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Unimontes, demonstram, claramente, o que se espera de um curso de arte situado em espaço regional; olhar e atuar dentro das perspectivas expressivas do mundo contemporâneo, sem descuidar da cultura local. Esforço este compartilhado pelo Museu Regional do Norte de Minas, e por muitos outros listados aqui abaixo, que contribuíram enormemente para a montagem desta mostra.

Agradecimentos:
Profª. Marina Ribeiro Queiroz e toda a equipe do Museu Regional do Norte de Minas; Profª. Silvana Diamantino França, Lérica Veloso e equipe do PIBID; Pró-Reitor de Pesquisa Virgílio Mesquita Gomes e equipe da Pró-Reitoria de Pesquisa; ASCOM- UNIMONTES; Docentes do Curso de Licenciatura em Artes Visuais - UNIMONTES e Departamento de Artes; João Pimenta dos Santos, Mestre Zanza, Coordenador das Festas de Agosto e Presidente da Associação dos Grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros; Philipe Nunes; grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos e Raquel Mendonça, Gerente de Preservação e Promoção do Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros/Secretaria Municipal de Cultura/Prefeitura de Montes Claros.

*Matéria da Inter TV sobre a Exposição:
 G1 - Unimontes e CAA realizam programação especial durante as Festas de Agosto

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A Arte e Fatos deseja sucesso ao querido amigo, professor Lucas Carvalho, e o parabeniza por tão belo trabalho! Confiram a Exposição "Catopê Contemporâneo" que está montada no Museu Regional do Norte de Minas/Unimontes. Corredor Cultural Padre Dudu - Rua Coronel Celestino, n° 75. Centro Histórico de Montes Claros, onde permanecerá até outubro deste ano.

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