por Wagner Gomes
Na obra de Alberto Sena, “Nos Pirineus da Alma”,
identificamos três, e não dois, personagens que vão para Santiago de Compostela
por meio de trilhas que passam pela grande cordilheira montanhosa, cujo nome
aparece no título do livro. Essa cordilheira, Pirineus, une o oceano Atlântico
ao Mar Mediterrâneo, formando uma fronteira natural entre a França e a Espanha,
países que instigam a narrativa mística. Os três personagens que dão vida ao
livro estão concentrados no casal Albertinho e Sílvia, ali identificados como
Bento e Tudinha, e um cajado que, ao acompanhar o seu dono, adquire
personalidade própria. Assim como Paulo Coelho teve em O Diário de Um Mago sua
primeira incursão literária, relatando as descobertas feitas no Caminho de
Santiago, o livro "Nos Pirineus da Alma" pode mudar a vida de nossos
dois peregrinos. Ao percorrer aquele caminho, não uma, mas duas vezes, eles demonstram
extrema resiliência para superar os obstáculos. E, naquele percurso, a
narrativa se enriqueceu com metáforas e situações oníricas. Ao atingirem o seu
propósito, também, abrilhantaram todo o roteiro, com elementos históricos que
se integram ao todo, com naturalidade. A própria fotografia acoplada ao livro
deu vida ao ambiente transformando, em algo real, aquilo que antes fora imaginado
na mente do leitor. Também encontrou espaço para acolher e abrigar personagens
em busca do autoconhecimento, que foram surgindo naquele caminho, como se
estivesse, através deles, edificando uma mensagem de fraternidade. Entrelaçando
as duas viagens objeto da narrativa, Bento traça significativo elo com o seu
cajado, que passa a desempenhar diversos papéis que, embora imaginários,
compõem um ambiente real. Ora ele assume o papel de apoio, ora de defesa, ora
de confidente, ora apenas o papel espiritual. Os personagens testaram, ao longo
dos 1.300 quilômetros percorridos nas duas viagens, os seus limites físicos. Tal
desgaste foi atenuado pelas paisagens fascinantes e pelas tradições da montanha
e agravado pelos perigos encontrados. De quebra foi recheado pela riqueza da
culinária e pela diversidade dos personagens que cruzaram suas vidas. Assim, ao
final da jornada, estava consolidado um atalho para a reflexão sobre os valores
que, realmente, mereciam estar presentes em suas vidas. Essa conjunção de
elementos contribuiu para o nascimento do primeiro rebento literário de Alberto
Sena. Ao final da leitura, não resisto em desejar que, ao seguir o caminho de
Paulo Coelho, o autor transforme seu primeiro livro no início de uma carreira
promissora de escritor.