quarta-feira, 28 de agosto de 2019

- Artigo -

Por Raquel Mendonça*


AS FESTAS DE AGOSTO E O FESTIVAL FOLCLÓRICO DE MONTES CLAROS: 
O PRESENTE COM BOAS LEMBRANÇAS DO PASSADO 


Obra do querido e talentoso artista Petter Frank

                                   "Deus te salve, Casa Santa
                                    Onde Deus fez a morada
                                    Onde mora o Cálix Bento
                                    E a Hóstia Consagrada."
  
Lembrando o grande e saudoso historiador e folclorista, Hermes Augusto Mendonça de Paula, em seu livro "Montes Claros, sua História, sua Gente e seus Costumes, considerada "a Bíblia Cultura de Montes Claros", com pequena atualização e informações complementares: "Há 180 anos que, nos dias 14, 15, 16, 17 e 18 de agosto - de quarta-feira a domingo - se realizam em Montes Claros festas religiosas (parte expressiva do catolicismo popular do município), em honra ou homenagem a Nossa Senhora do Rosário, santa protetora dos negros; ao santo negro, São Benedito e ao Divino Espírito Santo, acima de todos os santos, respectivamente. Além das práticas puramente religiosas, tais como missas, bênçãos e levantamento de mastros, realizam-se as festas e os lautos almoços - além das Visitas, também às Famílias Mordomas -, dos Reinados de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito e do Império do Divino Espírito Santo. Os Catopês ou Dançantes ("mesmo zumbi ou congado/congada de outros lugares, com belas e ricas características regionais"), Marujos ou Marujada e Caboclinhos ou Caboclada. Havia, no passado, as Cavalhadas e o Bumba meu boi, atos que não acontecem há muitos anos." Com muito brilho e beleza, os Catopês, Marujos e Caboclinhos realizam o que há de melhor e maior entre os eventos culturais tradicionais, com destaque ainda para as Folias de Reis e Pastorinhas, pois Montes Claros é considerada verdadeiro Celeiro de Folias pela Comissão Mineira de Folclore - CMF, com muitos Catopês e Marujos sendo também Foliões de Reis. Pena que a importante Associação dos Ternos de Folias de Reis e Pastorinhas de Montes Claros, por nós criada junto aos ternos, esteja quase que desativada, o que é lamentável. Tio Pedro Mendonça, grande apoiador das Folias no Bairro de Santos Reis, lá de cima dos céus, deve estar, no mínimo, muito triste e atento!

Continua Hermes de Paula, o maior defensor das Festas de Agosto em toda a sua longa história, que abria a sua casa, a famosa "Chacrinha", situada na Av. Cel. Prates, nº 106, para os parentes e amigos Festeiros, entre eles nós, pois nossa filha, Ana Bárbara Mendonça, foi Imperatriz do Divino aos seis anos de idade, Rainha de São Benedito aos nove anos e Rainha de Nossa Senhora do Rosário, aos 11 anos, em um período em que havia poucas famílias dispostas a fazer a festa, por devoção ou pagamento de promessa: "A mais antiga notícia sobre o assunto é datada de 23 de maio de 1839, quando Marcelino Alves pediu licença para tirar esmolas para as festas de Nossa Senhora do Rosário e do Divino Espírito Santo, que pretendia fazer nesta freguesia." Depois se associou também às festas a devoção a São Benedito e, atualmente, são seis os grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, os donos legítimos das Festas de Agosto, coordenada pelo Mestre Zanza (João Pimenta dos Santos, ou seja, o autêntico Coordenador das Festas de Agosto), do alto de seus 87 anos de idade e sabedoria: 1º Grupo de Catopês de Nossa Senhora do Rosário (chefiado pelo Mestre Zanza, com a participação de filhos e netos no grupo, o que é natural em todos, pois a arte e o ofício de catopê passam de pai para filho, tendo ao seu lado, na condução do Grupo, o seu filho, Mestre Zanza Júnior, assim batizado pelo pai, para acompanhá-lo, formado em Filosofia da Religião pela PUC/RJ, cursando o 8º período de Psicologia nas FASI, depois de interromper, no 5º período, o curso de Engenharia Civil na Funorte e do pai recebendo muito de toda a sua sabedoria e rica experiência à frente das Festas e do Grupo. Júnior participou, recentemente e com brilho, na Unimontes, de Mesa Redonda organizada e realizada por Raiana Maciel, junto ao Mestre Zé Hermínio e à Cacicona Socorro. Sobre o Mestre Zanza Júnior, vale lembrar também que ele chegou ao 4º ano, no Seminário Batista/Instituto Batista Norte-Mineiro); 2º Grupo de Catopês de Nossa Senhora do Rosário (chefiado pelo Mestre Yuri Faria, neto do grande e saudoso Mestre João Faria - João Batista Faria, com a também triste e recente partida de seu irmão Catopê, o querido Tonão); Grupo de Catopês de São Benedito (chefiado pelo Mestre Wanderley, filho do grande e saudoso Mestre Zé Expedito - José Expedito Cardoso do Nascimento); 1ª Marujada de Montes Claros, chefiada pelo Mestre Tim (Iderielton), filho do grande e saudoso Mestre Nenzinho - José Calixto da Cruz; 2ª Marujada de Montes Claros, chefiada pelo Mestre Zé Hermínio e Grupo de Caboclinhos ou Caboclada de Montes Claros, chefiado pela Cacicona Socorro, filha do grande e saudoso Mestre Joaquim Poló... Grandes os nomes das Festas de Agosto, do passado e do presente, a encherem as ruas de Montes Claros de extraordinária beleza e riqueza culturais, da Praça Dr. João Alves (Automóvel Clube de Montes Claros), passando, em seu trajeto ou percurso tradicional, pela Rua Dr. Santos, Praça Dr. Carlos, Rua Governador Valadares, ao lado do tradicional Café Galo - ponto de encontro de jornalistas, historiadores, escritores... -, até a Capela do Rosário/Igrejinha do Rosário ou Igrejinha dos Catopês, com a capela original tendo sido por eles - catopês, marujos e caboclinhos - construída, incluído o Mestre Zanza, que começou nas Festas que há décadas coordena, com muita força e fé, com apenas um ano, como "Catopê de Colo", nos braços do pai Pacífico Pimenta dos Santos!...

*** Lembrar que, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, continuam em processo de Registro como Bem Cultural Imaterial do Brasil todos os grupos de congado ou congadeiros do país, processo este iniciado por Corina Moreira na cidade, com nossa participação, de Joba Costa e do Museu Regional do Norte de Minas - MRNM, dirigido com extrema competência pela muito querida Marina Queiroz, que está criando, com grandes nomes da cidade, a Associação dos Amigos do Museu Regional...

Durante todo o ano, os Mestres e suas famílias, residentes nas mais diversas comunidades, fazem ou reformam suas fardas ou uniformes; os belos capacetes, "símbolo das Festas de Agosto de Montes Claros", enfeitados com espelhos, aljôfar, fitas de várias cores, penas de pavão - no passado eram de emas -, os penachos...; consertam ou fazem novos instrumentos musicais, como pandeiro, viola, violão, rebeca ou rabeca, o violino rústico; tamborim ou caixa, chama, chocalho... Basta visitar a sede da Associação dos Grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, na Rua Humaitá, nº 126, com Rua Santa Efigênia, no Bairro Morrinhos, presidida pelo Mestre Zanza, para se deparar com um verdadeiro "Museu do Catopê", com inúmeros e ricos registros fotográficos de festas do passado e do presente, uniformes ou vestimentas, capacetes e peças e mais peças doadas por muitos festeiros, representativas da história das belas e magistrais Festas de Agosto, feitas pelos Catopês, Marujos e Caboclinhos para todo o povo - o povão, como sempre diz o Mestre Zanza - de Montes Claros, com apoio da Secretaria de Cultura/Prefeitura de Montes Claros e da ONG Amigos dos Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, criada e presidida pela Catopéia Raquel Chaves (lembrando que o primeiro Mestre de Catopê a permitir mulheres em em grupo, batizando-as de catopéias, foi o grande e saudoso Mestre Zé Expedito) , que contribui ainda com feiras e medicamentos necessários aos mais diversos membros das Festas, angariando recursos a eles doados, através de promoções organizadas pela ONG o ano inteiro, tempo que dura a preparação das Festas pelos seis grupos, embora os Catopês, Marujos e Caboclinhos devessem ser, na verdade, apoiados financeiramente por mais nomes, empresas, instituições e entidades da comunidade montes-clarense, porque são muitos os seus gastos e os custos das Festas de Agosto, com a aquisição de todo o material necessário e confecção de roupas, acessórios e instrumentos às centenas de seus componentes, vestidos, ornados e calçados dos pés à cabeça, são muito, mas muito altos e elevados!... A Prefeitura disponibilizou R$ 9.000,00 para cada Grupo - valor maior até agora por eles recebido em todos esses anos -, abatidos, naturalmente, e legalmente - imposto e nota, passando a R$ 7.080,00, com os primeiros R$ 2.360,00 caindo na conta dos Mestres há três semanas e mais uma parcela na última terça-feira, faltando apenas o pagamento da última. É hora de a cidade inteira acordar e ajudar também aqueles que fazem a maior e mais importante manifestação cultural popular e tradicional de Montes Claros, com 180 anos de existência e resistência, porque não foram e não são poucas as dificuldades pelas quais passam, a maioria trabalhando o ano inteiro somente em função das Festas! As Festas de Agosto pertencem à população montes-clarense!...

                            "Ah! são chegados os doze pares
                             Lá da parte do oriente
                             Vem dando graças ao Divino
                             Um senhor tão soberano."

"Lá no céu tem um castelo
Lá no céu tem um castelo, ah!...
Quem formou foi o Rei da Glória
Quem formou foi o Rei da Glória, ah!!...
Filho da Virgem Maria."

                             "Vamos a ver a barca nova
                              Ai! Que do céu caiu no mar
                              Nossa Senhora vai dentro
                              E os anjinhos a remar."

"A Marujada ou "Chegança", "Chegança dos Mouros", "Chegança dos Marujos", "Barca", "Fandango", a teatralização da epopéia da Nau Catarineta, exaltando os feitos dos marinheiros portugueses e os princípios cristãos da religião católica, com seus patrões, contramestres, pilotos, calafatinhos e guardas, seus pandeiros e violas... A roupagem tradicional do passado não se assemelhava em nada com marinheiros de verdade - calças compridas com babados de renda, uma blusa enfeitada de aljôfar e rendas, chapéu branco com fita da mesma cor da roupa e aba "quebrada" na testa. Metade dos marujos se vestia de cetim vermelho e a outra metade de azul. Atualmente, os dois grupos de marujos se vestem de forma distinta, definida pelos Mestres. Lembrar ainda as espadas, o cetro, as máscaras de arame, com olhos, sobrancelhas e bigodes pintados, além da famosa barca dos marujos... Tudo que foi modificado pelos grupos é legítimo, o que não pode acontecer são interferências de pessoas que se imaginam donas das festas do povo... "Inter-ferir" não e nunca, para não comprometer a tradição, não descaracterizar, empobrecer e, com o tempo e tanta intromissão, causar até mesmo o desaparecimento das Festas, o que Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e o Divino jamais permitirão!...

"Sou caboco, caboquinho
E não brinco com ninguém
Quando eu pego na minha flecha
Flecho-flecho muito bem (...)"

                                       "Sou cacique, caciquinho
                                       Senhor lá da mataria
                                       Entre arcos e entre flechas
                                       Tenho muita fidalguia."

Os Caboclinhos ou Indiozinhos são "uma folgança de reminiscência indígena". Com o tempo e as decisões daqueles que têm poder sobre os grupos, vão acontecendo mudanças, alterações. "O Grupo se constituía de dez a quinze pares de crianças de 7 a 10 anos, vestidas de saiotes vermelhos, enfeitados de plumas, com o busto nu, pintado de urucu e outras tintas, conduzindo arcos e flechas, a cabeça guarnecida por capacete e penas... O Caciquinho, a Cacicona, o Cacicão, o Papai-Vovô, a Mamãe-Vovó, o Pantalão, o Capitão Campó... Algumas figuras infantis e adultas permanecem na memória, mas as que perduram são também acompanhadas por porta-bandeiras e músicos... Dudu, filho de Joaquim Poló, com o jeito perfeito do pai em tudo, também arrasa na Caboclada, executando e dançando a música típica dos caboclos...


*** FOLCLORE: FOLK-LORE, SABER DO POVO, COSTUMES, CONJUNTO DAS TRADIÇÕES DE UM POVO, CONHECIMENTOS OU CRENÇAS, MANIFESTAÇÕES POPULARES, OU SEJA, "CULTURA POPULAR"...

*** FOLCLÓRICO: RELATIVO OU PERTENCENTE AO FOLCLORE...


"A RETIRADA

A RETIRADA

EH MEUS CAMARADA

EH MEUS CAMARADA..."


ADEUS, ATÉ PARA O ANO...

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