quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E por falar em Cultura



* por Felicidade Patrocínio


  
Em se tratando de espaço humano, nada é mais importante que a cultura.

Ela própria significa humanidade. É ela toda a construção da realidade, um conjunto complexo a indicar conhecimento, sentimento e comunicação.
  
É a cultura que nos possibilita viver a tridimensionalidade do tempo; a um só momento visualizar o passado, vivenciar o presente e se projetar no futuro.
  
Riqueza maior do que o ouro e o diamante, os símbolos culturais nos preservam da solapagem dos valores, das crenças, dos costumes fundamentais, da beleza das artes, da magia dos ritos tradicionais que constituíram a nossa ancestralidade.
  
Quando preservada e passada de geração a geração, no berço e no cotidiano, traz genuinidade. Transforma-se em patrimônio de um povo, cria parâmetros de identidade, equilibra-o, sensibiliza-o, tornando-o forte, unido.
  
As manifestações culturais, sem dúvida, bebem na fonte da memória e são banhadas no desejo e necessidade de beleza que caracterizam o humano.
  
Por isso devem permanecer, devem ser perpetuadas, devem ser preservadas como patrimônio comum de um grupo social.

No entanto, o capitalismo, com as suas garras vorazes, em busca do incontrolável consumismo, há muito tempo vem se infiltrando nas diversas camadas sociais, impondo adesões a manifestações pseudo culturais efêmeras, vazias de substância humana e de dados identificatórios, confundindo a cabeça e as emoções do consumidor, transformando-o em mero absorvedor de entretenimentos. A força da mídia faz a sua parte, levando o povo a se comportar como massa.
   
No que se refere à cultura da cidade, vivemos esse impasse há bom tempo, mas, como somos um povo forte culturalmente, ainda estamos resistindo, enquanto outras cidades já se entregaram ao "canto das sereias".
  
No entanto, é preciso reconhecer que essa resistência cultural se deve ao trabalho incansável de alguns personagens da terra do pequi.
  
Dentre esses, destaco o nome de Raquel Mendonça que, como ninguém, e antes de todos, desfraldou a bandeira e se entregou de corpo e alma à luta para salvar o que nos resta de verdadeiro, de espontâneo, de autêntico da nossa cultura, tanto no plano material, quanto imaterial.
  
Muito nos admirava e admira sempre vê-la em reuniões com os grupos de catopês, marujos e caboclinhos, apoiando-os na criação da Associação, visando o seu fortalecimento, e combatendo bravamente a descaracterização das nossas centenárias Festas de Agosto; acompanhando os diversos grupos nos seus majestosos desfiles, providenciando soluções de possíveis dificuldades e se emocionando na fé e na beleza. O mesmo vale para os ternos de Folias de Reis e Pastorinhas, aos quais emprestou também apoio técnico à criação de sua Associação.

Muito nos admirava e admira vê-la enfrentar com coragem os ânimos alterados daqueles que eram e são impedidos da derrubada dos prédios tombados como patrimônio de identidade pública.
         
Muito nos admirava e admira o apoio total e incondicional que sempre ofereceu e oferece às artes musicais, literárias, plásticas e outras.
         
Nunca vi uma só solicitação por parte de artesãos, artistas ou fazedores culturais que não tivesse como resposta o esforço solidário de Raquel.
         
E para mais admirar, queremos aqui lembrar da sua preocupação no que se refere ao esclarecimento ao povo em geral, do que vem a ser cultura, a verdadeira cultura, diferenciando-a da indústria cultural, não permitindo que aquela se dissolvesse nesta.
        
Por tudo isso e já que falamos em patrimônio cultural, refletimos a presença de Raquel Mendonça neste espaço como um patrimônio vivo da cultura de Montes Claros.
         
Penso que, como montes-clarense, eu também deva dizer: Obrigada, Raquel!...


* Artista Plástica, cronista, membro-fundadora e ex-presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros e membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros.

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