terça-feira, 31 de maio de 2016

Crônica

BUTIQUIM

 * Aristônio Canela


Entre o universo e as criações humanas, há uma esquina mágica. De geração em geração, o lugar passa por redimensionamento, inclusive na sua arquitetura, tomando, é claro, as características e tendências de época, sem, entretanto, perder o charme. Frequentadores são exponenciais, compondo-se em gestos, roupagens e termos próprios e o lugar vira uma sequencia de ditames cósmicos. Parece-me, em meus devaneios bizarros, quase sempre madrugueiros, constatar a presença de figuras AD ETERNAS, todas imbuídas de suas capacidades influenciatórias, principalmente através da degustação de um bom vinho.

Naquele momento, consagrava-se um altíssimo papo de línguas soltas e irreverentes, deixando no espaço suas belezas fulgurantes. Estavam o fogo, a terra, a água e o ar já envolvidos pela etilidade. Seus argumentos fluíam naturalmente, sem nenhuma jactância ou orgulho tolo, mas transbordantes de prazer.

O FOGO recitava sua capacidade de aquecimento, derretendo a matéria, moldando-a em novas criações. A TERRA expunha sua doce maternidade num útero sempre grávido de sementes inacabáveis do bem. O AR cantava seu oxigênio inundador de pulmões do infinito, livrando-os de impurezas. A ÁGUA escorria lânguida e sensual, aleitando a vida de criadouros e criaturas. Era, de fato, uma conversa de quatro titãs, para calar todas as bocas e escancarar ouvidos. De repente, explodida talvez da mente de algum poeta insone, a libélula pequenina, de pescoço longo e delgado, olhos dengosos, corpo esbelto de saiote e sapatilhas, linda... Linda... linda e esvoaçante, dançou uma dança repleta de graça e singeleza, ao ritmo de uma música divina.

Depois, bem devagar, perante os quatro elementos, fez uma reverência graciosa e, pelo sorriso, lhes disse: "OS SENHORES JUNTOS SÃO A PRÓPRIA EXISTÊNCIA". Eles, flechados nos corações, prostraram-se de joelhos diante daquela centelha de harmonia e beleza. Com humildade, juraram-lhe amor por todos os tempos, pois reconheceram que a ARTE é o verdadeiro BEIJO DE DEUS.




* Membro da Academia Montes-clarense de Letras - AML e da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco - ACLECIA                                              

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