SAUDADE DE GOIA
*Georgino Júnior
Em certa época, ele era tido como a voz mais bonita do rádio
de Montes Claros. Motivo mais que suficiente para que, cedo ainda, se mudasse
para Belo Horizonte onde logo passaria a ser conhecido como uma das vozes mais
bonitas nos meios radiofônicos da capital do Estado... Isso foi há muito tempo.
Agora minha amiga e minha irmã Raquel Mendonça pretextando
homenageá-lo pede-me que fale um pouco sobre o dono daquela voz, motivo mais
que suficiente para que seja atiçado neste velho peito o fogo de uma terna e
enorme saudade.
Acho que nem eu, nem os milhares e habituais ouvintes da voz
a que me refiro, estamos ainda preparados para conviver com a ausência de
Eduardo Lima entre nós.
Mais que dono de uma bela voz Eduardo Lima, ou Duardolima, ou
Goia, ou Tchê como também o chamávamos era possuidor de outros talentos raros,
como o de fazer amigos e preservá-los com cuidado, ou o de ser o grande poeta,
o excepcional cronista, o insuperável prosador do rádio e do jornalismo
mineiros.
Além de companheiro e confidente, tive o privilégio de ser
seu amigo por mais de quatro décadas e conhecê-lo na intimidade junto aos
filhos, que ele fez aos montes, e das mulheres tantas e muitas que amou
desesperadamente, vida inteira.
Costumo dizer a quem queira ouvir, que nessas quatro décadas
a que me referi acima, Eduardo Lima, ao lado de Walmor de Paula foram os mais
talentosos e os mais brilhantes cronistas da minha geração na imprensa escrita
de Montes Claros, isso numa época pródiga e fecunda de talentos na arte de
escrever e de criar belezas nas folhas dos periódicos, como o foram os
jornalistas Luis Carlos Novais e Reginauro Silva, por exemplo.
Mais que amigo, Eduardo Lima foi meu irmão de fé, camarada, a
quem devo o belíssimo e generosíssimo prefácio do meu livro de poemas. E para
quem, a seu pedido, fiz dez ilustrações para seu correspondente livro, também
de poemas que publicaria se a “indesejada das gentes” não o tivesse levado
antes da hora para brincar de outra coisa junto às estrelas.
Como Rubem Braga, Duardolima também esteve entre nós caçando
brisas e tristezas, embora essas caçadas se dessem em meio ao burburinho das
festas, das saias das mulheres e das alegrias mundanas, porque felizmente tinha
outros pesos na massa do seu sangue.
Que o homenageiem agora, sim e muito, é o mínimo que Montes
Claros e a literatura da cidade podem fazer para perpetuar seu nome entre nós e
entre os mais jovens.
Parafraseando o que deixou escrito no meu livro, eu também
digo que Eduardo Lima foi um homem formidável. Ao relê-lo eventualmente, mais
confirmo a alegria que possuo de ter podido ser seu amigo durante tanto tempo.
E mais o admiro.
É como se eu estivesse no vácuo, num túnel de embevecimento,
sem ouvir sinal sequer, nenhum ruído, o mínimo sussurro da nossa amizade.
Amigo, amar-te mais é o que pude e posso.
Saudade!
Saudade!