sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Crônica -

SAUDADE DE GOIA

*Georgino Júnior

Em certa época, ele era tido como a voz mais bonita do rádio de Montes Claros. Motivo mais que suficiente para que, cedo ainda, se mudasse para Belo Horizonte onde logo passaria a ser conhecido como uma das vozes mais bonitas nos meios radiofônicos da capital do Estado... Isso foi há muito tempo.

Agora minha amiga e minha irmã Raquel Mendonça pretextando homenageá-lo pede-me que fale um pouco sobre o dono daquela voz, motivo mais que suficiente para que seja atiçado neste velho peito o fogo de uma terna e enorme saudade.

Acho que nem eu, nem os milhares e habituais ouvintes da voz a que me refiro, estamos ainda preparados para conviver com a ausência de Eduardo Lima entre nós.

Mais que dono de uma bela voz Eduardo Lima, ou Duardolima, ou Goia, ou Tchê como também o chamávamos era possuidor de outros talentos raros, como o de fazer amigos e preservá-los com cuidado, ou o de ser o grande poeta, o excepcional cronista, o insuperável prosador do rádio e do jornalismo mineiros.

Além de companheiro e confidente, tive o privilégio de ser seu amigo por mais de quatro décadas e conhecê-lo na intimidade junto aos filhos, que ele fez aos montes, e das mulheres tantas e muitas que amou desesperadamente, vida inteira.

Costumo dizer a quem queira ouvir, que nessas quatro décadas a que me referi acima, Eduardo Lima, ao lado de Walmor de Paula foram os mais talentosos e os mais brilhantes cronistas da minha geração na imprensa escrita de Montes Claros, isso numa época pródiga e fecunda de talentos na arte de escrever e de criar belezas nas folhas dos periódicos, como o foram os jornalistas Luis Carlos Novais e Reginauro Silva, por exemplo.

Mais que amigo, Eduardo Lima foi meu irmão de fé, camarada, a quem devo o belíssimo e generosíssimo prefácio do meu livro de poemas. E para quem, a seu pedido, fiz dez ilustrações para seu correspondente livro, também de poemas que publicaria se a “indesejada das gentes” não o tivesse levado antes da hora para brincar de outra coisa junto às estrelas.

Como Rubem Braga, Duardolima também esteve entre nós caçando brisas e tristezas, embora essas caçadas se dessem em meio ao burburinho das festas, das saias das mulheres e das alegrias mundanas, porque felizmente tinha outros pesos na massa do seu sangue.

Que o homenageiem agora, sim e muito, é o mínimo que Montes Claros e a literatura da cidade podem fazer para perpetuar seu nome entre nós e entre os mais jovens.

Parafraseando o que deixou escrito no meu livro, eu também digo que Eduardo Lima foi um homem formidável. Ao relê-lo eventualmente, mais confirmo a alegria que possuo de ter podido ser seu amigo durante tanto tempo. E mais o admiro.

É como se eu estivesse no vácuo, num túnel de embevecimento, sem ouvir sinal sequer, nenhum ruído, o mínimo sussurro da nossa amizade.

Amigo, amar-te mais é o que pude e posso. 

Saudade!

                

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