13/10/2013
A origem da esquisita denominação de Roxo Verde, dada a um
dos bairros mais antigos de Montes Claros, já foi suficientemente esclarecida
por Nelson Vianna, em sua obra “ Serões Montes-clarenses”. Na semana passada, o
jornalista Benedito Said, que adora esmiuçar tudo que lhe parece misterioso,
veiculou, em sua lidíssima coluna de variedades, no Jornal de Notícias, uma
versão que lhe contaram, supostamente explicando o porquê do Roxo Verde.
Trata-se de uma deturpação de fato real que, de boca em boca, acabou confundido
com o nome do cardeal Richelieu, que entrou de gaiato no caso. Isto costuma
acontecer em informações transmitidas apenas pela tradição oral. Diz o velho
ditado que quem conta um conto aumenta um ponto.
Nelson Vianna conta que, ali pela década de 1920,
aproximadamente, o comerciante José Fernandes de Araújo, de tradicional família
da cidade, gostava imensamente de informar-se e de instruir-se pela leitura de
jornais, tanto que era assinante do ‘Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro. Ele
tinha o hábito de, pela tarde, pegar o último jornal recebido e procurar um
local aprazível para saborear a leitura. Gostava muito, quando dispunha de
maior folga, já que o trabalho o esperava, no balcão de sua casa de negócios,
de ir a um recanto bucólico, na saída para Juramento, além da Malhada das
Almas, hoje Santuário do Bom Jesus. Ali, à sombra refrescante de árvore
frondosa, punha-se a par do que acontecia pelo país e pelos cinco continentes.
Entretanto, o que mais lhe dava prazer era a emoção
despertada pelos romances de capa-e–espada, que o matutino carioca publicava em
folhetins. Ainda não se falava em rádio e muito menos em televisão, portanto, o
folhetim era a novela daquela quadra distante. José Fernandes de Araújo, em
seguida à leitura prazerosa, narrava a amigos e familiares as peripécias
vividas pelos espadachins e aventureiros. Uma destas histórias fantásticas e
rocambolescas o impressionou, particularmente. Era a saga de um tal conde
Rochefert, que pintava e bordava em lances de amor e paixão, deixando o leitor
empolgado. Por isto, quando alguém indagava por seu paradeiro, os amigos
respondiam com segurança e confiança:
_ O Zé deve estar lá no seu cantinho, lendo o Rochefer...
Daí, dá para notar que foi se desdobrando a sequência de
corruptelas: Rochefer, Rochever, Rochover, Roxo Verde. Assim, o gabinete de
leitura ao ar livre passou a ser chamado por todos de Roxo Verde. Esta é a
razão, muito adequada, da existência, naquele local, da Praça José Fernandes de
Araújo, que veio a ser o pai do saudoso José Mário de Araújo, o popular Zé
Amaro. Quando o fundador do Roxo Verde morreu, colocaram em seu caixão o último
“Correio da Manhã” recebido, que ele não pudera ler, para que fosse lido em
algum recanto do Paraíso.
Seus descendentes, netos e bisnetos, honram a cidade que
muito amou. Um deles, o general Mário de Araújo, é o sexto montes-clarense que
recebeu a espada de general das mãos do Presidente da República, há poucos
dias. O avô José Fernandes de Araújo adoraria ler a notícia da promoção do
neto, em seu jornal preferido, que também já morreu. Não dá nem para imaginar
como seria o foguetório e a afobação de Zé Amaro, pai coruja do novo general do
Exército Brasileiro.